Sobre José Comblin

Em uma de nossas diversas conversas pelo facebook, nosso querido amigo e assessor, Claudemir Rodrigues, op, compartilhou uma sensível visão sobre a pessoa de  José Comblin – Padre e Teólogo da libertação.

Nós do MJD – BR, que somos a favor do livre alcance das ideias, logo pedimos permissão para disponiblizar o depoimento aqui em nosso blog. Façam bom proveito! Aí vai:

 

Sobre José Comblin, por Claudemir Rodrigues – op.

”Como se trata de Padre José Comblin, vou me dar ao luxo e o prazer de fazer uma viagem ao ado, e por meio de uma memória afetiva, relembrar as boas experiências que tive com Padre José, como era conhecido no bairro do Mutirão, cidade de Bayeux, região metropolitana de João Pessoa. 

Padre José, desde que veio para o Brasil, e se deixou encantar pelo universo das pessoas mais Pobres, sempre morou em centros de irradiação de Teologia Popular, fundados por ele mesmo. O Sítio da Arvore sempre foi um centro de formação laical, formou gerações de bons leigos em toda a Paraíba, são famosos os Cursos da Arvore, seu método de trabalho popular. Quatro anos de sólida formação teológica, pastoral e humana para as lideranças de comunidade de Base, do sertão ao litoral da Paraíba. Eu Mesmo fui muitas vezes, quando adolescente, acompanhar a minha comunidade de Origem – Comunidade São Benedito – à mutirões de trabalho de conservação do local, assim como participar de festas e formação, algumas com Padre José. Lembro-me que a grande aventura era visitar a casa do santo profeta, sua biblioteca (diga-se de agem, a única da cidade, e mais mais bem servida, talvez de todo estado, em matéria de boa teologia). Certo dia tive o desprazer de ouvir um certo religioso afirmar que Padre José não estudava, aquilo me irritou e revoltou deveras, achei de uma deselegância, e de uma ignorância tremenda, nunca encontrei padre José sem um bom livro nas mãos. Estou certo que ele fazia as vezes de nosso pai São Domingos, ele era a Voz dos Homens e das mulheres Pobres a Deus e a de Deus aos pobres homens e Mulheres. Sem sombra de dúvidas, se algum dia fizerem a Iconografia de Comblin, que seja feita obedecendo as regras de Nossa Iconografia Dominicana, ou seja, sempre com um livro nas mãos… pois ele era um grande mendincante da Verdade.

Comblin, por onde ou deixou rastros teológicos, deixou o da formação laica em Bayeux, o da formação dos leigos consagrados na cidade de Serra Redonda, onde tive o prazer de Estudar, e onde estava no dia em que morreu Dom Helder Câmara, (como esquecer o ofício daquele dia, fizemos um belo ofício de vigília). Deixou rastros teológicos na Cidade de Mogeiro, onde fundou o centro de formação para as leigas consagradas, e deu uma fundamental contribuição na fundação e estruturação da AMINE (Associação do Missionários do Nordeste). Em todas elas Comblin Deixou bibliotecas de excelência Teológica, tanto em obras como em revistas latino-americanas (foi onde tive o a literatura latino-americana, não só eu, mas muitos outros jovens adolescentes pobres paraibanos). 

Na produção teológica, Comblin foi o único a produzir uma teologia Peneumatológica. Foi o Teólogo do Espírito, e que se preocupou com a leitura de seus escritos, no início escrevia grandes e volumosos livros, mas atendendo o pedido das comunidade simples, que não estavam acostumadas a delicada arte da leitura, ou a a escrever textos curtos, ou relativamente curtos. Sempre prezou por uma linguagem clara. Seus livros marcos por um realismo, que muitos chamam de pessimismo eclesiológico, e justificam tal adjetivo, mas a meu ver, leram seus comentadores, e não sua obra. Conheci Professores de pneumatólogia que davam o esquema pneumatológico de Comblin, só lendo uma obra que ele escreveu sob encomenda para uma coleção de teologia da Libertação, obra esta, desprezada pelo próprio Comblin, em conversa, por ocasião de uma visita que fiz a ele, quando jovem professo… acabara de chegar do noviciado, e fui me apresentar a ele, dessa vez como frade dominicano, e dizer-lhe que fui ser dominicano por causa de seus escritos sobre a Ordem.

Conheci muitos Teólogos da “Libertação”, mas como o Padre José, conheci poucos (sendo caridoso), se ele falou de Deus, tenha certeza, ele o contemplou face a face, prova disso é que ele morreu. Ele falou dos pobres, sem nunca morar em um barraco, mas sem nunca sair do seu meio, ele fez o que todo dominicano devia fazer, anunciar o Cristo pobre aos irmãos e irmãs pobres. Ele viveu o que escreveu, foi presença do Espirito de Deus no universo das periferias do nosso Brasil. Contemplou e levou aos outros o frutos de sua contemplação!”

Deixe um comentário