A renovação da vida religiosa é um dos pontos abordados no 3º dia da série de posts em comemoração à Semana de São Domingos.
De maneira simples, porém esclarecedora, Leonardo de Laquila, integrante do MJD-BR e autor da reflexão – com o auxílio de textos Dominicanos -, nos mostra a diferença da vivência do carisma antes e depois do surgimento de Domingos de Gusmão.
Após a leitura, convidamos você a refletir sobre as três perguntas elaboradas no fim do texto!
‘Novidades’ do carisma de Domingos
Por Leonardo de Laquila
São Domingos nasceu em Caleruega, na Espanha, em 24 de junho de 1170, e faleceu em Bolonha, na Itália, no dia 6 de agosto de 1221. Filho de Joana de Aza e Félix de Gusmão, Domingos nasceu na zona de fronteira do Reino de Castela. Seus pais pertenciam à pequena nobreza guerreira, encarregue de assegurar as guarnições militares da fronteira com o sul dominado ainda pelos muçulmanos.
O pai queria entusiasmá-lo pelas armas, levando o menino para o meio de seus soldados; porém Domingos preferia andar com a mãe, mulher faminta por ajudar os inúmeros Humanos atingidos pela Guerra.
Conta a tradição que Dona Joana, quando grávida de Domingos, certa noite sonhou que dava à luz a um cachorro branco e preto que segurava na boca uma tocha, com a qual ia incendiando todos os lugares onde ava.
Preocupada com um sonho tão real e medonho, foi às pressas visitar o mosteiro de São Domingos de Silos, e pediu ao monge que fizesse a interpretação daquele sonho. Na intimidade de sua oração ouviu a seguinte resposta: “Seu filho será um fervoroso pregador do Evangelho e com sua palavra atrairá muitos a conversão”.
Mais do que um Homem de Deus, Domingos foi um grande reformador da Igreja, alguém capaz de olhar para além das estruturas clericais na busca de uma forma mais eficiente de evangelização das que eram praticadas em sua época.
No tempo de São Domingos, a vida religiosa se resumia praticamente a uma única expressão, ou seja, era essencialmente monástica e contemplativa. Os cônegos regulares, presbíteros (padres) que vivem sob uma regra, presentes no séc. XII, não eram propriamente religiosos. Eles compunham uma comunidade em torno de certos bispos, e tinham como funções principais as celebrações da Missa e, principalmente, da Liturgia das Horas.
São Domingos inaugura uma forma totalmente nova de vida consagrada. A partir de sua “compaixão” para com o povo desassistido, ele busca articular de maneira equilibrada os elementos da vida contemplativa com as exigências da vida apostólica. Foi uma verdadeira “refundação da vida apostólica”, e ao mesmo tempo uma “refundação da vida cristã”. Percebendo o abismo entre a Igreja e o povo, Domingos se inspira no estilo de vida do próprio Jesus Cristo junto com seus discípulos. “Ele abandona o cavalo e as facilidades dos monastérios e parte para uma vida chamada então de mendicante”.
São Tomás, indagado sobre o estilo missionário de vida levado pela Ordem surgente, já que os Frades mesmo vivendo sob uma Regra Regular não se mantinham encarcerados em um Monastério, responde: “nosso claustro é o mundo”.
Contemplação e ação, por causa desta “refundação” do estilo de vida consagrada que São Domingos é considerado como o “patriarca” da vida religiosa e cristã modernas.
Para entendemos as dimensões desta “revolução” trazida pelo Santo de Calaruega, é preciso confrontar a forma de consagração religiosa da tradição monástica com a nova forma de consagração e de missão que brotou do coração comivo de Domingos.
VIDA MONÁSTICA VIDA DOMINICANA
‘fuga’ do mundo inserção, compromisso no mundo
contemplação contemplação e ação
oração e trabalho manual oração e estudo, para a pregação
propriedade comunitária mendicância, partilha
estabilidade itinerância apostólica
regime ‘patriarcal’ do abade regime ‘democrático’
inserção local cidadania universal
pregação e missão local pregação e missão universal
>>> Modelo inspirador: a vida de Jesus e da comunidade dos Apóstolos.
Reflexão de grupo:
1) Quais elementos desta ‘refundação’ de Domingos aparecem mais autuais hoje?
-para a vida religiosa?
-para a missão apostólica?
2) Quais elementos parecem hoje ‘obsoletos’ ou questionáveis no carisma de Domingos?
3) Será que a atualidade (ou menos) do carisma de Domingos é a mesma para homens e mulheres, frades, irmãs, monjas leigos/as, na Família Dominicana?