O Advento

por frei Claudemir Silva, op

A palavra Advento deriva do substantivo latino Adventus, que significa “ato de chegar, chegada, vinda”. Por sua vez o substantivo latino adventus, tem suas raízes no verbo advenire, “vir para perto de…”, este verbo gera uma série de outras palavras, como por exemplo o adjetivo latino adventícius, “que vem de fora”, ou mesmo o verbo advento, “chegar rapidamente, aproximar-se”, e ainda o substantivo adventor, “o que vem visitar”.

Meus queridos confrades esta pequena investigação etimológica, servirá de nota introdutória à nossa breve reflexão em torno do Advento. Sobre o “niver” do nosso Movimento vamos o entrelaçando com o tema principal, afinal o Movimento Juvenil Dominicano, é obra do Espírito, disto estou convencido! E se é obra do Espírito, sua história está misturada à história da Igreja e ao seu modo de conceber o tempo. Não custa recordar que a história não é a somatória das narrações dos grandes eventos da humanidade, classificados assim por uma pequena elite dominante, e sim a memória da aventura humana em busca do bem viver, constituída por altos e baixos. E o que de fato faz a diferença neste peculiar modo de conceber a história é a questão deste considerar os pequenos gestos de bondade, generosidade, abertura de espírito e coração, feitos por homens e mulheres comuns, no cotidiano de suas vidas. É aqui onde se encaixa os cinco anos de vida do MJD.

O Ano Litúrgico é antes de mais nada a consagração do tempo à Deus. Esta concepção devemos ao evangelista Lucas, que em sua teologia apresenta o tempo cronológico como lugar de salvação, se vivido à luz da fé. A Igreja dividiu o Ano Litúrgico em: Ciclo de Natal, Tempo Comum, Ciclo Pascal, com o intuito de encravar na temporalidade o Mistério Pascal de Cristo. O tempo que abre o Ano Litúrgico é denominado Advento, se a palavra advento significa chegada, numa ótica de fé, esta chegada é a do próprio Deus que vem.

Poderíamos afirmar que Deus vem a nós em três momentos: no nascimento de Jesus, na vida e na história de cada indivíduo, e em sua glória, no final dos tempos. Se Deus virá para perto de nós, nos completará e nos acolherá, o que resta de nossa parte é vigiar e esperar. A Igreja chama esse tempo de espera ativa de Advento, e por este motivo que ele abre o Ano Litúrgico. Por meio de sua dinâmica, seus símbolos, hinos nos prepara para receber o Deus que vem nos visitar. O Advento é o tempo de no silêncio sonhar com dias melhores.

Sendo um tempo de espera, o Advento deve ser um tempo de silêncio. Pois no silêncio é a maneira mais excelente de esperar, já nos ensinava o profeta Elias (1 Reis 19:11-12).  Advento é o momento de ouvir o que diz o coração, escutar a voz interior e dedicar nosso tempo a Deus. Vamos, homem comum, deixa um pouco de lado teus afazeres. Afasta-te um pouco dos teus pensamentos gritantes! Manda embora as preocupações que pesam sobre ti e afasta-te daquilo que te dispersa o espírito! Dá um tempo a Deus e repousa nele! “Dize a Deus: Eu busco tua presença, Senhor” (Sl 27,8). Meu Senhor e meu Deus, mostra a meu coração onde e como procurar-te, onde como posso encontrar-te.

Quando mais jovem, da idade de alguns de vocês, gostava de ouvir uma amiga contar sobre suas experiências místicas, suas noites de vigílias, noites dedicadas a Deus, à oração, ao silêncio, confesso que fechava os olhos e ficava só ouvindo, ela era da Assembleia de Deus, e isso era o que mais me surpreendia, pois não cabia na minha cabeça a mistura de silencio com a Assembleia, pois eles sempre tão barulhentos. Havia um templo da Assembleia relativamente perto de casa, e o barulho era ouvido a distância, talvez por isso ficava tão irado. Costumava falar: “você é uma crente diferente”. Sendo assim, penso que essa colega de infância, que transcendeu o hábito de sua comunidade tem algo a nos ensinar, talvez uma boa prática para este período de advento: Seja ficarmos alguns momentos em silêncio e sem nada fazer, apenas ouvindo a voz interior e perguntando: O que realmente esperamos? Pelo que ansiamos? O que pode preencher nossa vida? O que nos falta? Seria bom armos uma noite intencionalmente acordados, despertos à espera do Cristo, tal como é dito no Sl 130: “Minha alma espera pelo SENHOR, mais que as sentinelas pela aurora”. O significado da espera pela chegada de Deus no Advento se torna claro para nós, se lembrarmos a espera por uma pessoa querida. Já imaginaram, adotar para este período a prática da vigília na torre da Igreja, hábito muito salutar do MJD- São Vicente? (Quem tem ouvido para ouvir que ouça).

O lecionário do advento nos convida a ouvirmos as promessas de Deus, em especial por meio da profecia de Isaías, anunciando que brotaria água no deserto, que espadas se converteriam em arados e que o lobo e o cordeiro, conviveriam em paz. Essas imagens não são ilusões utópicas, (no sentido fraco), criadas pelo profeta para nos iludir. São, na verdade, sonhos nos quais descobrimos nossas próprias possibilidades. São sonhos de Deus conosco. E, no Advento, nós sonhamos dentro do sonho de Deus, para liberar mais e mais as nossas possibilidades. Assim obtemos noção de até onde podemos ir. Quando Deus chega, o deserto em nosso coração floresce, brota uma fonte em nosso interior vazio e seco, enchendo-nos de vida. Ou, nas palavras dos profetas, que sempre relembramos nessas ocasiões, “o orvalho cairá do céu, fertilizando a terra”. As nuvens do céu devem “chover justiça”, para que germine a vida nova, para que o nosso mundo volte a ser habitável.

O advento é marcado no Hemisfério Norte, por noites mais longas e clima frio. O ano civil está terminando. Na escuridão, ficamos desorientados, sentimo-nos desamparados, solitários, não achamos o caminho de casa. Na escuridão, chamamos pelas pessoas que estão por perto, para que não caiamos em algum buraco. O medo da instabilidade em nossa existência nos leva a procurar apoio uns nos outros. E aqui nos vem o conforto que brota da audição atenta da Palavra de Deus por meio da profecia de Isaias, quando este diz: O povo que andava nas trevas viu uma grande luz (Is 9,1). Estas palavras podem tranquilizar nosso medo, trazer luz a escuridão na qual estamos envoltos, ou por vezes mergulhados.

O frio do inverno é um símbolo do frio que sentimos no coração. Estamos falando de uma atmosfera de gelo que predomina entre as pessoas. Pessoas geladas assustam, temos medo de que o gelo que nos envolve acabe nos congelando o coração. As velas da coroa do advento que piedosamente acendemos neste período não só iluminam a nossa escuridão, como também aquecem nossos corações. Aqui me vem à memória as decorações que o Leo, e a turma fazia por ocasião de nossas inúmeras vigílias, sentados no chão, sobre o “tapetão” (quem tem ouvidos para ouvir que ouça), a coroa do advento nos impulsiona a aqueles momentos de na escuridão contemplarmos a luz. “E quando me entrego à influência da luz tremulante de um círio, muitos anseios vêm à tona, anseios por amor, calor e aconchego do lar”. Meus queridos confrades Advento nos diz que nossos anseios e sonhos não são ilusões, e sim formas de um mundo onde a luz de Deus alastra calor e amor, onde posso estar realmente em casa, onde desabrocha uma flor “em pleno frio do inverno a meia-noite”.

Queria refletir o advento de uma maneira diferente, numa perspectiva mais corriqueira, talvez como um caminho espiritual, uma Caminhada Orante: isso é muito MJD. São cinco anos marcando nosso jeito de ser. Nosso engajamento político, pastoral, social deve ser sempre reflexo do objeto contemplado por cada um de nós, que é o próprio Deus em Jesus Cristo,: “Contemplari et contemplata aliis tradere”.

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