Mulheres do MJD: Lívia Alfonsi

por Lívia Alfonsi*

8 de março é o dia internacional das Mulheres. Confesso que quando me chamaram para escrever esse depoimento fiquei muito feliz, mas ao mesmo tempo não sabia o que escrever. ava-me pela cabeça se eu era digna de tal espaço que por tradição tinha sido dedicado a mulheres de luta do mundo e do Brasil. E então, caí em mim e é disso que vou falar.

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Vou falar de empoderamento feminino. Sabe por quê? Pois essa pergunta que me surgiu: “Será que sou digna/ boa suficiente para isso?”, é uma questão presente em nossas vidas o tempo todo. E essa não é uma questão importante e reflexiva de autoconhecimento, mas uma questão que só vem para nos rebaixar e nos lembrar de que pelo fato de sermos mulheres não seremos capazes de determinadas coisas.

É muito difícil tirarmos da nossa cabeça a ideia de que não podemos lutar, correr, ser engenheira, mecânica ou qualquer outra coisa que não nos é estimulada na infância. E por isso, vira e mexe, nos rebaixamos sem mesmo tentar fazer algo, como eu quase fiz ao pensar que não seria capaz de escrever esse texto.

Mas, então a culpa é da mulher que não consegue se imaginar capaz de fazer algo? Não! Vivemos numa estrutura patriarcal de sociedade que reforça todos os dias o machismo que nos oprime. Para conseguirmos sair disso não é necessária somente a mudança de mentalidade, mas principalmente uma mudança estrutural da sociedade. Onde, de fato, mulheres ganhem o mesmo salário que um homem quando tão qualificadas quanto; onde mulheres possam escolher não ter filhos e não serem taxadas de mulheres incompletas; onde mulheres estejam representadas em todos os setores da sociedade; onde a política seja feita de fato por homens e mulheres; onde mulheres possam viajar sozinhas ou juntas e não serem mortas; onde mulheres vítimas de violência não sejam culpabilizadas por suas roupas.

Mas ai, vem um alguém e diz: “é só uma piada! Calma!”. Não estou calma nem serei calma enquanto o mundo não é calmo comigo e me diz diariamente desde meus 13 anos ao pé do ouvido palavras e olhares violentos.

Gosto de piadas. Aliás, rio muito durante o dia com elas. Mas gosto de piadas inteligentes, piadas que não diminuam os oprimidos mas que pelo contrario, os engrandeçam.

Que esse dia seja usado para repensarmos nossas atitudes frente as mulheres. Mesmo que você saiba que nunca sentirá o mesmo que uma, desafio você a ouvir com respeito sem julgamentos uma mulher, desafio ainda a tentar em meio a uma piada que diminua as mulheres a não rir e ainda explicar aos seus amigo o por que de não estar rindo, desafio você a dar um pouco do seu espaço para dar a voz a elas e não falar por elas.

Abaixo deixo alguns links interessantes de algumas coisas que falei aqui:

Noticia de duas mulheres que viajavam juntas e foram mortas: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2016/03/a-sina-das-mulheres-que-ousaram-viajar.html

Documentário sobre piadas (ótimo para mostrar como é possível fazer piada inteligente): https://www.youtube.com/watch?v=uVyKY_qgd54

Vídeo sobre feminismo negro (ótimo para entender por que não devemos falar daquilo que não sofremos e como isso não significa fechar os olhos para o outro): https://www.youtube.com/watch?v=uTrLpclk3j4

Blog do Sakamoto #AgoraéqueSaoElas (ótimo exemplo de um homem que cedeu seu espaço para mulheres falarem e não para que ele fale sobre elas): http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/11/05/as-mulheres-nao-querem-migalhas-que-caem-da-mesa-querem-um-novo-pao/

Para finalizar gostaria de dizer que para escrever esse texto eu repensei toda a minha vida como mulher e me lembrei que nem sempre fui assim; me lembrei que já fui (e ainda sou para certos aspectos) muito machista e que isso é extremamente natural já que crescemos numa sociedade onde se diz “segure suas cabritas que o meu cabrito está solto” querendo se referir a filhas e filhos. Então, mulheres, não se culpem! Estamos aí para nos ajudar a transcender essa cultura e foi graças a ajuda de muitas que tenho mudado e continuo mudando para viver livre e feliz.

*Lívia Alfonsi tem 24 anos e mora em São Bernardo do Campo (SP). Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC), é mestranda em Ensino em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP).

 

 

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