Renovação de compromisso – MJD Curitiba

por Camila Schmitz*

Há um ano atrás, participei de um encontro do MJD – Curitiba, fui recebida de braços abertos, e desde então, não parei de participar. Eu estava em busca de novos conhecimentos e novas experiências, e principalmente de conhecer um Movimento Juvenil diferente. Nesse período, tive a oportunidade de saber mais a respeito
da Ordem dos Pregadores e sua história, vivi e aprendi muito, além de ter conhecido pessoas incríveis em que hoje considero minha família.

No dia 17 de março de 2018, compareci à minha primeira Renovação de Compromisso na Capela São Domingos, Depois de um ano de preparação, finalmente me senti pertencendo àquele lugar. Durante a cerimônia, uma alegria enorme consumiu meu coração, não tinha lugar nenhum que eu quisesse estar a não ser ali mesmo, de
frente para o altar.

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Renovação de compromisso na Capela São Domingos em Curitiba (PR)

Eu via Jesus diante de mim. À minha esquerda, Maria Madalena, e à minha direita, São Domingos, fundador da Ordem dos Pregadores. A comunidade atrás de mim e meu amigos ao meu lado, juntos por um único propósito. Coloquei a camiseta preta por cima da branca, sabendo que a partir daquele gesto tão simples, minha vida iria mudar. Não sou mais apenas participante do grupo, mas sim membra oficial do Movimento Juvenil Dominicano.

Um voz ecoou na minha cabeça, “Seja Bem-Vinda à Família Dominicana”, e uma sensação de pura felicidade e emoção tomou meu corpo. Chorei e senti o abraço receptivo de meus amigos, também emocionados.

Eu só tenho a agradecer por essa pequena jornada até aqui, na qual é apenas o começo. Obrigada pelas experiências e aprendizados, pelas amizades que fiz, e por ter a honra de participar desse movimento lindo e inspirador. Agora mais do que nunca, prossigo com o meu compromisso de oração, estudo e vida em comunidade.

Mulheres camponesas ou Mulheres trabalhadoras Rurais

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por Raimara Arruda*

Quem são as mulheres camponesas? De acordo com a definição do Movimento de Mulheres Camponesas, mulher camponesa, é aquela que sozinha ou juntamente com o grupo familiar, produz o alimento e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebradeira de coco, as extrativistas, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas, parceiras, sem terra, acampadas e assentadas, assalariadas rurais, quilombolas e indígenas.

O campo é composto por uma grande diversidade de sujeitos que vivem lugares muito diferentes, possuem individualidades, história e necessidades específicas. Essas diversidades são enfrentadas por mulheres que lutam por melhores condições de vida, é um movimento que está diretamente ligado aos conflitos pela posse da terra, e que foi se ampliando para a luta por direitos sociais, como o direito de ser reconhecida como agricultora, ou trabalhadora rural, o direito à participação, assim como a luta contra as desigualdades de gênero, o combate à violência doméstica, a luta por políticas públicas de educação, saúde, entre outras.

Ao longo de anos, tem se ouvido o grito das mulheres camponesas, través de movimentos e organizações pelo país, que acabam se tornando politicas publicas.  Esses movimentos e organizações como: Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Comissão Pastoral da Terra ( T), Movimento dos Sem Terra (MST), Movimentos das Mulheres Camponesas (MMC), entre outros, reúnem as mulheres em busca de levar a voz do campo, a luta cotidiana e a experiência das dificuldades enfrentadas na busca por seus direitos. O dia a dia dessas mulheres são cheios de dificuldades e desafios, desde o alimento à mesa, a escola para os filhos, o direito a moradia, à saúde e uma vida digna no campo. A busca por melhores condições de vida e por direitos são constantes e árduos. As mulheres camponesas estão na lida.

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Comunidade São Miguel – Goiatins (TO). Foto: Rafael Oliveira

Mulheres camponesas são lutadoras, revolucionárias, militantes, dirigentes de movimentos, são cheias de crenças e esperança, são exemplo de força, fé, amam a natureza e mesmo com tantos percalços carregam em si a alegria, a fraternidade e a perseverança.

A mulher do campo, luta, chora, resiste, sonha… a mulher do campo, planta, colhe, vende, produz… a mulher do campo ama seu chão, tem alegria de ver o verde brotar, tem o sonho de direitos alcançar e de um dia pela sobrevivência  não ter que implorar.

*Raimara é de Tocantins, mas atualmente participa do MJD Curitiba.

Igualdade de Gênero

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por Geovana Brito*

Quando recebi o convite para refletir brevemente sobre a questão da igualdade de gênero, celebrando o Dia Internacional da Mulher, a primeira coisa que me veio em mente foram as edições anteriores da série “Mulheres do MJD”. Lembrei-me do quanto ouvir a voz de pessoas tão próximas à mim, mulheres que eu irava, falando sobre temas tão essenciais – e tão pouco discutidos no âmbito da Igreja – me despertou o interesse, e me abriu os olhos para questões tão fundamentais, e que hoje são de tamanha relevância para mim. Logo, pensei: o que eu poderia falar de tão inspirador sobre esse assunto, quanto o que eu ouvi um dia?

De fato recordando-me deste projeto do MJD e do lançamento do Livro-Agenda Latino-americana 2018, que justamente tem por tema o assunto sobre o qual aqui nos detemos, não me ocorreu nada tão indispensável que eu pudesse falar, que já não tenha sido trazido à luz anteriormente. Tantas estatísticas, dados, relatos de situações de desigualdade, encontramos aos montes – se procurarmos. É um tema mais divulgado atualmente do que vinha sendo há algumas décadas. Entretanto, os progressos que fazemos enquanto conscientização da grande maioria da população, vem a os lentos. Temos muito o que percorrer nesse caminho em direção à igualdade.

Então acredito que na verdade, o melhor que tenho para trazer à essa discussão, é uma provocação. Inspirada pelo próprio Livro-agenda já mencionado acima, que é repleto de textos excelentes sobre a questão sobre a qual nos debruçamos, resolvi trazer a metodologia que este propõe na sua organização: o ver/recordar, o julgar/sonhar, e o agir.

Pensando em nosso próprio cotidiano, homens e mulheres, acredito que somos capazes de identificar as mais diversas barbaridades em relação à desigualdade de gênero (o “Mapa da desigualdade de gênero”1 e o “Relatório sobre a igualdade de gênero no mundo”2 são bastante informativos neste sentido). Me questiono: enxergo essas desigualdades, institucionalizadas e veladas, nas realidades em que estou inserido? Como eu me porto diante delas?

No que diz respeito à atitude de julgar essa realidade observada, o que proponho é que nos interpelemos: onde eu posso estar mais atento? Porque ter uma consciência humilde das nossas faltas, acredito que seja o que pode nos levar enfim à uma atitude verdadeiramente fraternal (ou “sororal”, como disse José Maria Vigil) para com todos nossos irmãos e irmãs. Afinal de contas, nascemos inseridos nessas sociedades que há tempos reproduzem pensamentos, comportamentos e valores machistas. Não seria muita ingenuidade acreditar que num e de mágica ligamos um botão e pronto, paramos de replicar atitudes machistas? Se faz necessário sonharmos esse mundo equânime possível, a partir de nossas próprias ações.

Quanto ao agir, proponho que com ânimo e generosidade nos empenhemos em refletir e entender como e o quê podemos fazer em nossas vidas, para sermos promotores do Reino, de dignidade, e da vida – e vida em abundância! – para as tantas mulheres ao nosso redor oprimidas, silenciadas, marginalizadas, excluídas.

* Geovana é do MJD São Paulo e vice-coordenadora da cataquese do Crisma da Paróquia São Vicente de Paulo

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1. Livro-Agenda latino-americana 2018, página 19.

2. Livro-Agenda latino-americana 2018, página 20 e 21.

Violência contra a Mulher

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por Giovanna Araújo*

“As mulheres são como água, crescem quando se encontram”.

O ano de 2018 se iniciou com um terrível caso de feminicídio, em que uma jovem de 22 anos foi assassinada pelo seu ex-companheiro de quem havia se separado há cerca de 6 meses. Não bastasse a morte, o autor do crime teve a audácia de andar com a jovem morta na garupa de sua moto, desfilando e mostrando à vizinhança o crime que acabara de cometer.

Por essa e tantas outras, o dia 8 de março é muito mais de luta que de comemoração. É mais espinhos, que flores. Muito mais cansaço, que descanso. É sangue, muito sangue.

O Brasil é o quinto país com maior taxa de feminicídio no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O QUINTO PAÍS. Logo, se faz necessária a discussão e efetivação de políticas públicas voltadas para a proteção da vida da mulher, em caráter de urgência. Para além disso, é necessário também, discutir a abordagem de violência contra a mulher nas igrejas. Isto porque a igreja, exerce uma responsabilidade muito grande de combate às injustiças.

É preciso que os religiosos tenham consciência do peso de suas palavras sobre a vida das pessoas, e nesse contexto de violência contra mulher, é fundamental a cautela e o zelo, principalmente ao rear mensagens de textos vindos da Sagrada Escritura. Eu, por exemplo, já presenciei uma celebração onde o celebrante relatava que Deus odeia o divórcio, e que se a mulher casou, que aguentasse o fardo, aliás, “Deus só dá o fardo que você consegue carregar”. Dessa forma, as igrejas podem aumentar a dimensão dos mitos advindos de uma sociedade machista  e patriarcal.

A interpretação distorcida e o mau entendimento das Escrituras, faz com que a mulher vítima de abusos acabe estendendo uma relação tóxica, e vivendo diariamente a realidade de violência doméstica.

Na relação conjugal,  somos convidados a amar um ao outro. O amor não machuca, não violenta, pelo contrário, respeita e oferece escolhas para que a pessoa se sinta tão amada a modo de que ela queira ficar, dessa vez, não somente por preceitos religiosos, mas também por reciprocidade. Deus pode até odiar o divórcio, mas também odeia que um homem se cubra de violência (Malaquias 2:16).

A igreja precisa ser quem acolhe, não quem afasta e silencia as vítimas em situação de violência. Se a minha igreja reforça os mitos, cala a voz de quem clama ajuda, ou não permite a contestação de uso indevido das Escrituras, então a minha igreja está compactuando com a violência que o próprio Cristo combateu.

Ademais, é importante assumir que a violência contra as mulheres é generalizada, e as igrejas não estão excluídas dessa problemática. Nesse ano de 2018, onde a Campanha da Fraternidade adota o tema “Fraternidade e Superação da Violência”, é essencial que seja aproveitado um espaço para abordagem da violência contra a mulher, e também viabilizar ações de combate.

Como seres criados a imagem e semelhança de Deus, merecemos dignidade e respeito. Não podemos aceitar de braços cruzados que uma mulher tenha seus direitos violados, ou na pior das hipóteses, sua vida ceifada.

Em Cristo somos todas irmãs, assim resistiremos, lutaremos.

*Coordenadora de Missão e Caridade do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil (MJDBR)

Maria e o Dia Internacional da Mulher

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por Mariana Bongiorno*

“Maria, Maria

É um dom, uma certa magia

Uma força que nos alerta

Uma mulher que merece

Viver e amar

Como outra qualquer

Do planeta

Maria, Maria

É o som, é a cor, é o suor

É a dose mais forte e lenta

De uma gente que ri

Quando deve chorar

E não vive, apenas aguenta…”

Neste dia em que fazemos memória a tantas “Marias” oprimidas e excluídas da sociedade ontem e hoje, que lutaram e lutam (algumas até a morte) em busca de dignidade e direitos humanos, não poderíamos deixar de fazer memória também e, sobretudo, à Maria, mãe de Jesus, por tudo o que ela representa em uma história marcada pelo patriarcado e pelo machismo.

O nome “Maria” era dado às mulheres mal vistas pela sociedade da época, pois fazia memória à Myriam, do Antigo Testamento, a qual havia sido amaldiçoada por se opor ao casamento de seu irmão com uma mulher etíope. Neste contexto, Maria era uma mulher simples, do povo e muito sensível às necessidades dos mais pobres.

Ainda que marginalizada pela sociedade patriarcal da época, Deus escolheu a jovem e pobre mulher da Galileia para trazer ao mundo o Messias, consagrando assim, a participação fundamental das mulheres na salvação do mundo. Deus escolheu uma mulher para gerar o seu Filho.

Em sua acolhida profunda ao projeto de Deus, Maria exerceu sua missão com gratuidade ofertando seu “Sim” generoso e materno. Tornou-se, então, paradigma de discipulado e seguimento de Jesus.

Jesus, em seu projeto de anunciar o Reino de Deus a todos e todas, rompe com o patriarcalismo da sociedade da época ao solidarizar-se com mulheres enfermas e marginalizadas e incluí-las em seu projeto em condições de igualdade e reciprocidade. Assim, as mulheres nas primeiras comunidades cristãs eram sujeitas atuantes em diversos ministérios. Com o ar dos séculos, a Igreja solidificou sua estrutura, clericalizando os ministérios e concentrando-os nas mãos dos homens da hierarquia.

Muitas outras mulheres, a exemplo de Maria, deixaram sua marca e seu protagonismo a serviço do Reino. Podemos citar Santa Maria Madalena, Santa Catarina de Sena, Santa Luísa de Marillac, Irmã Dorothy, Zilda Arns e tantas outras mulheres santas, religiosas, leigas, anônimas que dedicam cada dia em favor da justiça, dos direitos humanos, da não violência e do Amor. A atuação feminina em trabalhos pastorais, lideranças e articulações é extremamente relevante para a missão da Igreja em todo o mundo.

Por isso, homens e mulheres hoje são convidadas/os a refletir, a luz do exemplo de Maria, sobre nosso papel junto à sociedade e à Igreja. Qual sociedade e qual igreja queremos construir?

Ganhamos o dia 8 de Março, porém a causa ainda não foi vencida. Tomos muito ainda por fazer e conquistar.

Que Maria, junto a seu Filho, nos inspire a sermos instrumentos da mudança em nossas realidades.

* Coordenadora Nacional do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil (MJDBR)

Nota: atualmente, dos 6 grupos do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil, 5 são coordenados por mulheres, eleitas democraticamente.

Referência

DOMECI, M. C. A mulher na história do Cristianismo. Agenda Latinoamericana 2018: Igualdade de Gênero. São Paulo, Brasil.