por Mariana Bongiorno*
“Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta…”
Neste dia em que fazemos memória a tantas “Marias” oprimidas e excluídas da sociedade ontem e hoje, que lutaram e lutam (algumas até a morte) em busca de dignidade e direitos humanos, não poderíamos deixar de fazer memória também e, sobretudo, à Maria, mãe de Jesus, por tudo o que ela representa em uma história marcada pelo patriarcado e pelo machismo.
O nome “Maria” era dado às mulheres mal vistas pela sociedade da época, pois fazia memória à Myriam, do Antigo Testamento, a qual havia sido amaldiçoada por se opor ao casamento de seu irmão com uma mulher etíope. Neste contexto, Maria era uma mulher simples, do povo e muito sensível às necessidades dos mais pobres.
Ainda que marginalizada pela sociedade patriarcal da época, Deus escolheu a jovem e pobre mulher da Galileia para trazer ao mundo o Messias, consagrando assim, a participação fundamental das mulheres na salvação do mundo. Deus escolheu uma mulher para gerar o seu Filho.
Em sua acolhida profunda ao projeto de Deus, Maria exerceu sua missão com gratuidade ofertando seu “Sim” generoso e materno. Tornou-se, então, paradigma de discipulado e seguimento de Jesus.
Jesus, em seu projeto de anunciar o Reino de Deus a todos e todas, rompe com o patriarcalismo da sociedade da época ao solidarizar-se com mulheres enfermas e marginalizadas e incluí-las em seu projeto em condições de igualdade e reciprocidade. Assim, as mulheres nas primeiras comunidades cristãs eram sujeitas atuantes em diversos ministérios. Com o ar dos séculos, a Igreja solidificou sua estrutura, clericalizando os ministérios e concentrando-os nas mãos dos homens da hierarquia.
Muitas outras mulheres, a exemplo de Maria, deixaram sua marca e seu protagonismo a serviço do Reino. Podemos citar Santa Maria Madalena, Santa Catarina de Sena, Santa Luísa de Marillac, Irmã Dorothy, Zilda Arns e tantas outras mulheres santas, religiosas, leigas, anônimas que dedicam cada dia em favor da justiça, dos direitos humanos, da não violência e do Amor. A atuação feminina em trabalhos pastorais, lideranças e articulações é extremamente relevante para a missão da Igreja em todo o mundo.
Por isso, homens e mulheres hoje são convidadas/os a refletir, a luz do exemplo de Maria, sobre nosso papel junto à sociedade e à Igreja. Qual sociedade e qual igreja queremos construir?
Ganhamos o dia 8 de Março, porém a causa ainda não foi vencida. Tomos muito ainda por fazer e conquistar.
Que Maria, junto a seu Filho, nos inspire a sermos instrumentos da mudança em nossas realidades.
* Coordenadora Nacional do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil (MJDBR)
Nota: atualmente, dos 6 grupos do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil, 5 são coordenados por mulheres, eleitas democraticamente.
Referência