por Giovanna Araújo*
“As mulheres são como água, crescem quando se encontram”.
O ano de 2018 se iniciou com um terrível caso de feminicídio, em que uma jovem de 22 anos foi assassinada pelo seu ex-companheiro de quem havia se separado há cerca de 6 meses. Não bastasse a morte, o autor do crime teve a audácia de andar com a jovem morta na garupa de sua moto, desfilando e mostrando à vizinhança o crime que acabara de cometer.
Por essa e tantas outras, o dia 8 de março é muito mais de luta que de comemoração. É mais espinhos, que flores. Muito mais cansaço, que descanso. É sangue, muito sangue.
O Brasil é o quinto país com maior taxa de feminicídio no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O QUINTO PAÍS. Logo, se faz necessária a discussão e efetivação de políticas públicas voltadas para a proteção da vida da mulher, em caráter de urgência. Para além disso, é necessário também, discutir a abordagem de violência contra a mulher nas igrejas. Isto porque a igreja, exerce uma responsabilidade muito grande de combate às injustiças.
É preciso que os religiosos tenham consciência do peso de suas palavras sobre a vida das pessoas, e nesse contexto de violência contra mulher, é fundamental a cautela e o zelo, principalmente ao rear mensagens de textos vindos da Sagrada Escritura. Eu, por exemplo, já presenciei uma celebração onde o celebrante relatava que Deus odeia o divórcio, e que se a mulher casou, que aguentasse o fardo, aliás, “Deus só dá o fardo que você consegue carregar”. Dessa forma, as igrejas podem aumentar a dimensão dos mitos advindos de uma sociedade machista e patriarcal.
A interpretação distorcida e o mau entendimento das Escrituras, faz com que a mulher vítima de abusos acabe estendendo uma relação tóxica, e vivendo diariamente a realidade de violência doméstica.
Na relação conjugal, somos convidados a amar um ao outro. O amor não machuca, não violenta, pelo contrário, respeita e oferece escolhas para que a pessoa se sinta tão amada a modo de que ela queira ficar, dessa vez, não somente por preceitos religiosos, mas também por reciprocidade. Deus pode até odiar o divórcio, mas também odeia que um homem se cubra de violência (Malaquias 2:16).
A igreja precisa ser quem acolhe, não quem afasta e silencia as vítimas em situação de violência. Se a minha igreja reforça os mitos, cala a voz de quem clama ajuda, ou não permite a contestação de uso indevido das Escrituras, então a minha igreja está compactuando com a violência que o próprio Cristo combateu.
Ademais, é importante assumir que a violência contra as mulheres é generalizada, e as igrejas não estão excluídas dessa problemática. Nesse ano de 2018, onde a Campanha da Fraternidade adota o tema “Fraternidade e Superação da Violência”, é essencial que seja aproveitado um espaço para abordagem da violência contra a mulher, e também viabilizar ações de combate.
Como seres criados a imagem e semelhança de Deus, merecemos dignidade e respeito. Não podemos aceitar de braços cruzados que uma mulher tenha seus direitos violados, ou na pior das hipóteses, sua vida ceifada.
Em Cristo somos todas irmãs, assim resistiremos, lutaremos.
*Coordenadora de Missão e Caridade do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil (MJDBR)