por Geovana Brito*
Quando recebi o convite para refletir brevemente sobre a questão da igualdade de gênero, celebrando o Dia Internacional da Mulher, a primeira coisa que me veio em mente foram as edições anteriores da série “Mulheres do MJD”. Lembrei-me do quanto ouvir a voz de pessoas tão próximas à mim, mulheres que eu irava, falando sobre temas tão essenciais – e tão pouco discutidos no âmbito da Igreja – me despertou o interesse, e me abriu os olhos para questões tão fundamentais, e que hoje são de tamanha relevância para mim. Logo, pensei: o que eu poderia falar de tão inspirador sobre esse assunto, quanto o que eu ouvi um dia?
De fato recordando-me deste projeto do MJD e do lançamento do Livro-Agenda Latino-americana 2018, que justamente tem por tema o assunto sobre o qual aqui nos detemos, não me ocorreu nada tão indispensável que eu pudesse falar, que já não tenha sido trazido à luz anteriormente. Tantas estatísticas, dados, relatos de situações de desigualdade, encontramos aos montes – se procurarmos. É um tema mais divulgado atualmente do que vinha sendo há algumas décadas. Entretanto, os progressos que fazemos enquanto conscientização da grande maioria da população, vem a os lentos. Temos muito o que percorrer nesse caminho em direção à igualdade.
Então acredito que na verdade, o melhor que tenho para trazer à essa discussão, é uma provocação. Inspirada pelo próprio Livro-agenda já mencionado acima, que é repleto de textos excelentes sobre a questão sobre a qual nos debruçamos, resolvi trazer a metodologia que este propõe na sua organização: o ver/recordar, o julgar/sonhar, e o agir.
Pensando em nosso próprio cotidiano, homens e mulheres, acredito que somos capazes de identificar as mais diversas barbaridades em relação à desigualdade de gênero (o “Mapa da desigualdade de gênero”1 e o “Relatório sobre a igualdade de gênero no mundo”2 são bastante informativos neste sentido). Me questiono: enxergo essas desigualdades, institucionalizadas e veladas, nas realidades em que estou inserido? Como eu me porto diante delas?
No que diz respeito à atitude de julgar essa realidade observada, o que proponho é que nos interpelemos: onde eu posso estar mais atento? Porque ter uma consciência humilde das nossas faltas, acredito que seja o que pode nos levar enfim à uma atitude verdadeiramente fraternal (ou “sororal”, como disse José Maria Vigil) para com todos nossos irmãos e irmãs. Afinal de contas, nascemos inseridos nessas sociedades que há tempos reproduzem pensamentos, comportamentos e valores machistas. Não seria muita ingenuidade acreditar que num e de mágica ligamos um botão e pronto, paramos de replicar atitudes machistas? Se faz necessário sonharmos esse mundo equânime possível, a partir de nossas próprias ações.
Quanto ao agir, proponho que com ânimo e generosidade nos empenhemos em refletir e entender como e o quê podemos fazer em nossas vidas, para sermos promotores do Reino, de dignidade, e da vida – e vida em abundância! – para as tantas mulheres ao nosso redor oprimidas, silenciadas, marginalizadas, excluídas.
* Geovana é do MJD São Paulo e vice-coordenadora da cataquese do Crisma da Paróquia São Vicente de Paulo
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1. Livro-Agenda latino-americana 2018, página 19.
2. Livro-Agenda latino-americana 2018, página 20 e 21.