Mulheres do MJD: Nunca foi sobre mandar flores

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Tradicionalmente, ano após ano, ‘’celebramos’’, no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher.

Mas o que de fato estamos celebrando? E o que significa essa data?

Em 1975 a Organização das Nações Unidas (ONU), instaurou o Ano Internacional da Mulher para que não sejam esquecidas suas conquistas políticas e sociais e, na data de 8 de março, foi então oficializado o dia Internacional da Mulher. Em 1977, a UNESCO também reconhece a data como oficial.

Pegando carona no samba-enredo campeão do carnaval de 2019, da Estação Primeira de Mangueira, queremos aproveitar este momento do ano para iniciar mais uma edição da série de textos #MulheresdoMJD que cumprirá o papel de contar – como disseram os sambistas verde e rosas – parte de ‘’uma história que a história não conta’’, sobretudo para as juventudes.

A história do dia 8 de março não começou em 1975 com o aval da ONU ou da UNESCO. Esse marco histórico não objetiva somente homenagear mulheres com presentes e exaltações às suas feminilidades – como por muitas vezes observamos acontecer em nossos meios de convivência – sem considerar suas lutas históricas por direitos, o combate a violência de gênero e suas demandas políticas em nossa sociedade atual.

Esse dia do ano, atualmente, têm vencido estes costumes que rotulavam e reduziam o público feminino, envelopando tudo de rosa e as enchendo de chocolates, para dar espaço ao debate e aos espaços de encontros formativos que os movimentos feministas vêm propondo para a sociedade.

Nunca foi sobre mandar flores. E nunca será.

Abrindo mais uma edição da série ‘’Mulheres do MJD’’, confira, abaixo, o nosso primeiro texto ‘’8 de Março nasceu com luta por pão e paz’’, escrito e cedido pela jornalista, feminista e amiga de lutas Claudia Santiago*. O material foi originalmente publicado no Jornal Brasil de Fato.

A data tem origem em manifestação organizada por tecelãs e costureiras de Petrogrado, durante greve de 1917 na Rússia. - Créditos: Charge: Latuff

8 de Março nasceu com luta por pão e paz

A data tem origem em uma manifestação organizada por tecelãs e costureiras de Petrogrado, durante a greve iniciada no dia 23 de fevereiro de 1917, na Rússia, por pão e paz. Esse movimento foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa.

Alexandra Kollontai, em 1920, assim descreve o movimento:

“Em 1917, no dia 8 de março (23 de fevereiro), no Dia das Mulheres Trabalhadoras, elas saíram corajosamente às ruas de Petrogrado. As mulheres – algumas eram trabalhadoras, algumas eram esposas de soldados – reivindicavam “Pão para nossos filhos” e “Retorno de nossos maridos das trincheiras”. Nesse momento decisivo, o protesto das mulheres trabalhadoras era tão ameaçador que mesmo as forças de segurança tsaristas não ousaram tomar as medidas usuais contra as rebeldes e observavam atônitas o mar turbulento da ira do povo. O Dia das Mulheres Trabalhadoras de 1917 tornou-se memorável na história. Nesse dia as mulheres russas ergueram a tocha da revolução proletária e incendiaram todo o mundo. A revolução de fevereiro se iniciou a partir desse dia.”

Após o fim da Primeira Guerra mundial, em 1918, começa a ser retomado o dia da Mulher. Mas é só a partir de 1921 que o movimento de mulheres ará a celebrar o Dia Internacional da Mulher. Não que antes não fosse comemorado. Era sim. Só que não tinha uma data unitária em todo o mundo, como é hoje.

A II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, em 1910, decidiu pela realização de um dia internacional dedicado à luta das mulheres. O direito ao voto era a principal luta das mulheres em grande parte dos países no mundo naquele momento. A decisão diz o seguinte: “As mulheres socialistas de todas as nações organizarão um Dia das Mulheres específico, cujo primeiro objetivo será promover o direito de voto das mulheres.”

Antes, já era realizado em alguns lugares. Em 3 de maio de 1908, a Federação dos Clubes de Mulheres Socialistas de Chicago realiza um ato pelo Dia da Mulher, num teatro da cidade. No ano seguinte aconteceu em Nova Iorque, em 28 de fevereiro. Em 1910, o Partido Socialista americano organiza, pela segunda vez, o Dia da Mulher, no último domingo de fevereiro, também em Nova Iorque. Foi assim em 1911, 1912 e 1913. Em 1914, foi comemorado em 19 de março.

Na Europa, a primeira celebração do Dia das Mulheres aconteceu em 19 de março de 1911, na Suécia, após a Conferência de Copenhagem. Na Itália começou no mesmo ano. Na França, o começo foi em 1914. Nesse ano pela primeira vez, na Alemanha, o ato é realizado em 8 de março.

Em 1921, Alexandra Kollontai propõe durante a conferência das Mulheres Comunistas, realizada, em Moscou, na URSS, que se adote o dia 8 de março como data unificada do Dia Internacional das Mulheres, em homenagem à greve das tecelãs em 1917. A partir dessa conferência, a data a a ser espalhada como data das comemorações da luta das mulheres, em todo o mundo. Assim nasceu o 8 de Março.

Na década de 1960, as manifestações pelo Dia Internacional da Mulher ganham grandes proporções. Em 1975, a ONU; e logo depois com a Unesco, em 1977; reconhecem o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.

Referências bibliográficas 

. Côté, Renée. La Journée Internationale des Femmes: Les Vrais faits et les Vrais dates des Mystérieuses Origines du 8 Mars Jusqu’ici  Montréal: Les Éditions du Remue-Ménage, 1984.

. Monal, Isabel. Clara Zetkin y el Día Internacional de la Mujer. La Habana: Academia de Ciencias de Cuba, 1977.

. Vasconcelos, Naumi A. “¿Existió realmente el 8 de marzo?”. Mujeres en Acción, n° 1, (1995): 58-60.

. SOF – Sempre Viva Organização Feminista, “8 de março em busca da memória perdida”. São Paulo (2001)

. Santiago Claudia, Giannotti Vito, A origem socialista do dia da mulher. NPC-8 edição – 2016

* Jornalista e coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)

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