55 anos do golpe militar: O que está acontecendo?

por Osvaldo Meca*

CartazTito2016-04

Hoje, 31 de março de 2019, o Brasil faz memória dos 55 anos do golpe militar. Essa data sempre esteve em uma disputa de narrativas. No entanto, especialmente nesse ano, após eleições presidenciais que estimulou, mas também revelou uma polarização no Brasil, essas disputas ganharam um contorno diferente – e muito perigoso.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, lançou um documento para que se celebre data nos quartéis, na forma de homenagear os articuladores do golpe e o golpe em si. Isso significa, portanto, que esse fato histórico, antes revisado por alguns grupos de que não foi uma ditadura, agora está sendo mobilizado dentro de um escopo institucional.

O revisionismo histórico é um perigo pois esvazia as marcas visíveis da ditadura que durou de 1964 a 1985 no Brasil: desaparecimentos de pessoas (militantes ou não), torturas, exílios, prisões (ou melhor conceituando, sequestros), estupros, ou seja, a violência praticada pelo estado sem qualquer tipo de controle, e ainda legitimada por diversos grupos, como empresários, política externa etc.

O presidente eleito tentou minimizar essa questão do revisionismo, dizendo que em regimes ditatoriais “de vez em quando tem um probleminha”. Mais uma vez se esvazia, desvaloriza, e até mesmo faz-se chacota com o sofrimento alheio e com a destruição de um projeto de país democrático, portanto, inclusivo.

Nesse ano também faremos memória de 45 anos da morte de frei Tito de Alencar Lima, OP. As marcas da ditadura não ficaram apenas no corpo de Tito, mas também em sua alma. Nas palavras de Dom Paulo Evaristo Arns, pastor e profeta da igreja de São Paulo, “o outro lado da vida Tito encontra a unidade perdida”: no dia 10 de agosto de 1974, Tito se enforca em baixo de uma copa de um Álamo, no convento de L’Arbresle, na França. Que a memória de frei Tito de Alencar Lima imprima em nós a fome e sede por justiça.


*Osvaldo Meca é historiador, mestre em História e integrante do Coletivo Frei Tito Vive

Deixe um comentário