Justiça cega no Tocantins: moradores históricos de comunidade camponesa podem ser expulsos de suas terras

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A luta pela justiça e pela garantia e defesa dos direitos humanos, principalmente aos mais pobres e desassistidos, é uma luta que o Movimento Juvenil Dominicano do Brasil (MJD-BR) se propõe a estar dentro. Por isso, divulgamos abaixo uma nota escrita pela Comissão Pastoral da Terra (T), na qual denuncia diversas decisões “escandalosas” contra as famílias camponesas do Norte do Tocantins.

O MJD-BR reza e se coloca à disposição dos camponeses e camponesas excluídos e prejudicados pela (in)Justiça que tenta calá-los. Ainda que distantes fisicamente, nos fazemos próximos em comunhão com o clamor das comunidades na esperança da companhia de Deus. Confira o texto da T na íntegra:

“A Comissão Pastoral da Terra (T) utiliza-se desta nota para expressar sua indignação diante das escandalosas sentenças proferidas repetidamente pelo juiz titular da Comarca de Goiatins (TO), Dr. Luatom Bezerra Adelino de Lima, contra as famílias camponesas moradoras da gleba Tauá, no município de Barra do Ouro (TO).

Fiel à sua missão de ser presença fraterna junto às comunidades do campo em luta pelo respeito de seus históricos direitos, a T alerta para o impacto irreversível que estas decisões vêm causando aos trabalhadores e trabalhadoras.

Dona Ieda e seu marido são despejados pela segunda vez da gleba Tauá

Dona Ieda e seu marido são despejados pela segunda vez da gleba Tauá

Emblemático é o caso de dona Ieda Rocha dos Santos, moradora da gleba Tauá há mais de 45 anos: Ieda já ou por um primeiro despejo em 3 de abril de 2015, por determinação deste juiz, em sentença favorável ao grileiro Emílio Binotto, empresário catarinense do setor de transporte e plantador de soja.

Após retirar seus pertences antes mesmo do cumprimento da ação, dona Ieda e sua família restabeleceram-se em uma área dentro da própria gleba, onde não consta título algum em nome de qualquer proprietário; ou seja, uma área da União Federal sem nenhum dono particular.

Uma tomada de coordenadas geodésicas realizada por um engenheiro agrônomo comprovou que dona Ieda não estava mais na mesma área da qual acabara de ser despejada. Mesmo assim, sem nenhum pedido de perícia técnica, o juiz Luatom emitiu nova ordem de despejo contra ela – cumprida em 12 de agosto de 2015 – sob a alegação de que dona Ieda havia permanecido na mesma área.

Até os dias de hoje, dona Ieda, seu marido e os oito filhos estão vivendo na cidade, em um barracão improvisado. A fartura de mandioca, abóbora, arroz, feijão e outros alimentos da agricultura familiar já não existe mais. A sua criação de porcos e galinhas também se perdeu na hora em que o caminhão do despejo carregou suas coisas.

Mais emblemático ainda é caso de dona Raimunda Pereira dos Santos, moradora tradicional da gleba Tauá. Aos 73 anos de idade, dona Raimunda vive naquelas terras desde 1952. Ela é a principal liderança da comunidade. No próximo dia 12 de novembro está marcado seu despejo em virtude da sentença de reintegração de posse expedida pelo mesmo juiz Luatom Bezerra, prestes a retirar esta senhora da terra onde viveu quase toda a sua vida.

Debaixo do pé de manga, dona Raimunda (à direita) e sua irmã conversam no local onde foi a primeira morada de seus avós

Debaixo do pé de manga, dona Raimunda (à direita) e sua irmã conversam no local onde foi a primeira morada de seus avós

Causa estranheza esta decisão de reintegração ter como embasamento documental, entre outros documentos questionáveis, uma mera declaração de um servidor do INCRA de Araguaína (TO) informando a tramitação nesta autarquia de um processo de regularização das áreas em disputa e afirmando se tratar de terras públicas federais. Causa revolta esta decisão, além de ser injusta, extrapolar a área de posse de dona Raimunda, conforme apontado no relatório do 2º Batalhão da Polícia Militar de Araguaína: cerca de 40 outras famílias de posseiros estão assim arroladas para serem retiradas de onde moram.

“Eu sempre estou de pé firme. Nunca gelei, nunca tive medo. Meus companheiros, minha comunidade e Jesus vêm me dando mais força para conquistar a vitória da terra. Aqui eu vivo com meus filhos e filhas. Eles já estão com família criada aqui também. Pra que lugar nós vamos se nos tirarem daqui?”, indaga dona Raimunda.

Em maio de 2015, tratores com correntões devastaram o cerrado dentro da gleba Tauá.

Em maio de 2015, tratores com correntões devastaram o cerrado dentro da gleba Tauá.

Uma sistemática destruição do Cerrado

A gleba Tauá tem sido o alvo constante de desmatamento realizado pelo empresário catarinense Emilio Binotto, o qual grilou essa área para plantar soja, milho e criar gado. Em maio de 2015, ao menos cinco tratores com correntões foram responsáveis por derrubar todo o Cerrado que encontravam pela frente.

À época, o sojeiro pretendia desmatar uma área equivalente a cerca de 800 campos de futebol, mas esta estimativa já foi superada. A área total desmatada desde a chegada de Binotto pode atingir 11 mil hectares. Acompanhadas pela T de Araguaína (TO), cerca de 20 famílias tradicionais (que vivem há mais de 50 anos nesta gleba) e outras 66 famílias que aram a ocupar as terras na última década, estão ficando ilhadas e encurraladas diante da força brutal do desmatamento e da violência exercida pelos funcionários do sojeiro-grileiro, Sr Binotto.

Rios, córregos e nascentes estão desaparecendo devido ao assoreamento ocasionado pela devastação da natureza. “Antes eu andava por essas terras e sabia exatamente onde ficava cada grota d’água, cada caminho para as casas das famílias amigas. Hoje em dia, com esse desmatamento, eu não reconheço mais nada, não sei mais caminhar por aí”, denuncia dona Raimunda.

Em muitos casos, o corte desenfreado das árvores chega a beirar as casas das famílias, deixando o local impróprio para desenvolver qualquer tipo de agricultura familiar. “Essa prática serve também como forma de pressionar as famílias para que elas saiam dali, pois nota-se que o grileiro desmatou, mas não plantou nada. Mas o pior vem depois, quando a soja ou o milho são plantados nos arredores e são despejados os diversos tipos de agrotóxicos”, aponta o agente e coordenador da T, Pedro Ribeiro.

Uma sistemática tentativa de expulsão dos camponeses

Assim, como tantos outros casos, as causas do atual conflito na gleba Tauá remetem à arrecadação de uma área de 17,7 mil hectares pelo extinto Grupo Executivo de Terras do Araguaia Tocantins (GETAT), em maio de 1984, à revelia das populações que ali viviam e trabalhavam.

Com isso, centenas de camponeses tiveram seu modo de vida tradicional alterado de forma drástica. Essa imensa área da União, a partir de 1992, ou a ser cobiçada por especuladores do sul do Brasil. Considerando que essas terras estavam “sem dono”, iniciaram um processo de expulsão dos moradores tradicionais, de cercamento dos campos e de desmatamento ilegal. Toda essa violência foi registrada junto ao Ministério Público Federal, em 2007.

A partir de 2009, houve novas tentativas de expulsar os camponeses, com o advento do Programa Terra Legal. Uma parte da gleba foi dividida entre 14 “laranjas” que iniciaram processos para regularizar essas terras junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Os mesmos estão na última instância istrativa; 9 deles já receberam parecer desfavorável aos grileiros. Neste contexto ocorreram vários episódios de queima de barracos, envenenamento de rios, uso ilegal de força policial local em apoio aos fazendeiros, desmatamento, pistolagem, na tentativa evidente de expulsar as famílias.

Apesar das muitas Audiências Públicas realizadas, com a participação, entre outros, de: Ministério Público Federal, Incra, MDA, Naturatins, Ibama, Itertins, Ouvidoria Agrária Regional e Ouvidoria Agrária Nacional, não houve qualquer avanço concreto na resolução do ime.

Na avaliação do advogado Silvano Rezende, “os agentes do Estado simplesmente permitem que inúmeras áreas tituladas e áreas de ocupação de sertanejos sejam assenhoreadas por forasteiros, numa verdadeira reconcentração fundiária”,

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Tocantins produziu 2,335 milhões de toneladas de soja na safra 2014/2015. A gleba Tauá situa-se na região de maior produção de soja do estado.

Para a T, é humana e evangelicamente inaceitável que o custo a pagar para este duvidoso recorde seja a bárbara expulsão do povo que ali vive, trabalha e reproduz a vida, um bem sem preço.”

Araguaína, 09 de novembro de 2015
T Araguaia-Tocantins

Vídeo: veja os bastidores do 7º Encontro de Camponeses no Tocantins

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Arruma o barracão, constrói a cozinha, recebe os alimentos, prepara o almoço, enche o tambor de água, interage com as crianças, prepara o ambiente para a oração, inscreve os participantes… Essas são algumas das tarefas que envolvem a organização e realização de um grande encontro. Neste caso, do 7º Encontro de Formação de Camponeses, realizado na comunidade Boa Esperança, no município de Palmeirante, no Tocantins.

Durante os dias 1º, 2 e 3 de junho, 165 camponeses e camponesas, incluindo crianças, jovens e adultos, se reuniram para trocar experiências e conhecimentos. Mas, para que todas as atividades pudessem fluir como deveriam, muita gente trabalhou nos “bastidores”, tal qual formiguinhas na manutenção de um formigueiro. Quer saber como foi? Então assista ao vídeo abaixo:

14ª Romaria Padre Josimo reforça a luta dos camponeses, indígenas e quilombolas no Tocantins

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Evento realizado em Colinas deu seu grito em favor dos povos da terra e da água

“Se os profetas se calarem, as pedras falarão!”: sob este lema, romeiras e romeiros celebraram a 14ª Romaria da Terra e da Água Padre Josimo, nos dias 8 e 9 de maio, em Colinas, no Norte do Tocantins. FOTO1

A tradicional Romaria Padre Josimo reuniu diferentes culturas e costumes. Com o objetivo de fazer memória aos que doaram suas vidas em favor dos oprimidos dos povos do campo e da água, indígenas, quilombolas e camponeses confraternizaram lado a lado nos dois dias de evento.

Organizações e movimentos sociais também caminharam em conjunto, dentre eles a Comissão Pastoral da Terra (T), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Alternativa para Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) entre outros.

FOTO2 Na sexta-feira (8), o dia foi marcado por diversas oficinas, que trataram sobre reforma agrária, segurança alimentar, conflitos pela água, ameaça dos grandes projetos, trabalho escravo, drogas e violência e povos indígenas e quilombolas. As palestras serviram como momentos de conversa e trocas de experiências entre os participantes.
“Eu achei esse momento muito importante, pois vi diversas realidades que eu ainda não conhecia. Isso é muito bom porque assim eu tenho a oportunidade de levar conhecimento até a minha comunidade”, afirma Francisco da Silva, assentado no PA Santo Antônio, na região de Palmeirante (TO).

Pela primeira vez, foi realizado o Acampamento da Juventude Romeira. Um terreno foi preparado e destinado especialmente aos jovens, para que pudessem acampar com suas barracas. Um seminário discutiu os diversos problemas enfrentados pela juventude nos dias de hoje, como a redução da maioridade penal.

FOTO3 Na praça em frente à Paróquia Nossa Senhora Aparecida, a noite cultural – ou noite da memória – abriu espaço para os talentos aparecerem. O povo subiu ao palco para contar histórias, recitar poemas e, principalmente, cantar muita música boa até a madrugada se aproximar. Os indígenas Apinajé e Xerente prenderam as atenções ao apresentarem seus cantos e suas danças tradicionais.

Já no sábado (8), fogos de artifício estouraram pelos bairros da cidade às 5h, despertando os cerca de mil romeiros e romeiras para o café da manhã na Paróquia São Sebastião, onde também foi inaugurado um memorial com o poema “Mártir da terra e da justiça”, de Pedro Tierra, que homenageia a luta de Padre Josimo.

A procissão pela cidade foi marcada por diversos momentos de muita emoção, como no depoimento da indígena Elza Xerente. “Eu estou aqui para representar todos os povos indígenas do Brasil. Nós não podemos deixar que ninguém mate nossa mãe terra, nós temos que lutar para defender nossa mãe. Eu sou uma mulher e luto para defender nosso povo, eu considero todos como nossos irmãos, seja sem terra, assentado, quilombola. Nós não temos juiz, não temos promotor para defender nossos direitos, mas Deus é o mais poderoso”, exclamou Elza Xerente. FOTO4

Raimunda Pereira dos Santos, conhecida posseira da Gleba Tauá, no município de Barra do Ouro (TO), também teve a oportunidade de dar o seu grito de indignação frente aos diversos episódios de violência sofridos por ela a mando do fazendeiro Emilio Binotto. “Eu tenho 20 anos de sofrimento, 20 anos que vivo massacrada, ameaçada, com abuso de polícia e destruição. Até hoje eu vivo firme na minha terra, mas graças à força de Deus. A Justiça de cima de terra está protegendo só os fazendeiros que vivem de destruir todo o que temos”, denunciou Dona Raimunda.

FOTO5

Por fim, a celebração eucarística contou com a presença de Dom Giovane Pereira, bispo de Tocantinópolis, Dom Philip Dickmans, bispo da Diocese de Miracema e Dom Pedro Brito, Arcebispo de Palmas, entre outros representantes do Regional Norte 3 da CNBB, responsável pela organização do encontro.

A participação de Dona Olinda, mãe de Josimo, carregando a imagem de Nossa Senhora Aparecida durante a celebração, coroou o encerramento da 14ª Romaria da Terra e da Água Padre Josimo. FOTO6

Mobilizações no Tocantins fazem memória ao Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo

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Para celebrar o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, cerca de 35 agentes de saúde do município de Nova Olinda (TO) organizaram uma eata na última quarta-feira (28). A caminhada de 1km percorreu as ruas da região central da cidade.

Os/as agentes de saúde entregaram panfletos e levantaram faixas que alertam sobre a existência de trabalho escravo ainda nos dias atuais. Um carro de som acompanhou o grupo e reproduzirá mensagens referentes ao assunto. Para saber mais detalhes de como foi a ação, assista ao vídeo que acompanha este texto.

Outra ação será realizada pelo grupo de jovens do Centro Cultural Casa da Capoeira, acompanhado desde 2012 pela Campanha da Comissão Pastoral da Terra “De Olho Aberto para não virar escravo”. Os jovens promoverão um “panfletaço” nas ruas de Araguaína, a segunda maior cidade do Tocantins, na manhã de sábado (31). Cerca de 20 jovens participarão da atividade.

Agentes de saúde de Nova Olinda (TO) participam de eata no Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo

Agentes de saúde de Nova Olinda (TO) participam de eata no Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo

Em 2014, o Tocantins voltou ao 1º lugar no ranking nacional em casos de trabalho escravo relatados: foram 25. Figurou, também, como o estado número 1 em trabalhadores libertados: 188. De 2003 a 2014, 76 municípios tocantinenses – mais da metade! – tiveram registro de trabalho escravo.

O dia 28 de janeiro foi oficializado como Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo como uma forma de homenagear e fazer memória aos auditores fiscais do trabalho Nelson José da Silva, João Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e o motorista Aílton Pereira de Oliveira, assassinados nesta data em 2004, durante fiscalização na zona rural de Unaí (MG).

Oração e missão: jovens participam de oficina sobre Trabalho Escravo em Araguaína (TO)

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As Notícias do Pé do Morro ficaram um pouco ausentes nos últimos meses, mas reaparecem em 2015 com este primeiro post!

Aqui reproduzo um texto escrito por jovens que conheci ano ado. Na ocasião, fazíamos visitas porta a porta, em novembro, na cidade de Santa Fé – vizinha ao Pé do Morro -, durante as tradicionais “Santas Missões”.

Essa galera faz parte da Juventude Missionária da comunidade de Santa Terezinha, em Araguaína. O grupo é composto por 15 menin@s de 17 a 20 anos. Durante uma reunião de planejamento com Evandro – colega que trabalho junto na Comissão Pastoral da Terra (T) -, resolvemos sugerir ao grupo uma oficina sobre Trabalho Escravo.

Sem qualquer restrição, a juventude aceitou nossa “oferta”. Leia abaixo o relato que eles escreveram no blog que mantêm logo após a formação:

juventude_missionaria_tocantins (1) A Juventude Missionária (JM) Santa Terezinha, de Araguaína (TO), participou de uma oficina promovida pela Comissão Pastoral da Terra (T) a respeito do trabalho escravo no meio rural. A formação foi realizada na chácara da T no último sábado, 17, e contou com a participação do coordenador Estadual da JM, George Henrique, e da vice-coordenadora diocesana de Tocantinópolis, Taillany Mesquita.

Durante a manhã foi apresentado alguns conceitos de trabalho escravo e leis que abrangem sua existência. Também foi apresentado um documentário com depoimentos de pessoas que são escravizadas. “Fico indignada ao ver a situação em que se expõe o ser humano: escravizados e tratados como animais. E o que mais me deixa triste é a impunidade para os promotores da escravidão que, nem sequer, vão presos”, salientou a jovem Raylany Costa. Também foram realizados trabalhos em grupos, onde os jovens leram depoimentos de pessoas libertas da escravidão e apresentaram em plenária.

juventude_missionaria_tocantins (2)A oficina foi concedida pelos jovens representantes da Comissão Pastoral da Terra, Evandro (22 anos) e Rafael (27 anos). “O intuito é fazer com que vocês utilizem isso que foi aprendido nesse dia de hoje para alcançar mais pessoas e conscientizá-la sobre esse tipo de trabalho, não somente no meio rural, mas também aplicado à toda a sociedade. Podemos nos unir e promover diversos trabalhos”, enfatizou Rafael.

No período vespertino foi desenvolvido um trabalho em grupo onde os jovens deveriam desenhar, numa cartolina, o seu trabalhador escravizado e escrever uma história de libertação da escravidão para apresentar. Saíram trabalhos belíssimos.

A T irá disponibilizar aos jovens alguns panfletos para que seja distribuído nas famílias durante a Missão de Férias, de 27 a 31 de janeiro, em Araguatins.

Povo indígena Krahô realiza “Ritual da Tora grande” em agradecimento a Dom Tomás Balduíno

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*Especial escrito por Leidiane Cruz, do Cimi

O ritual que é feito tradicionalmente em honra aos indígenas que morrem, aconteceu dessa vez em homenagem a um bispo católico, Dom Tomás Balduíno, entre os dias 26 e 28 de setembro, na Nova Aldeia Krahô, no município de Goiatins (TO). Jercília Krahô, uma das lideranças da aldeia e que considera Dom Tomás como um tio, decidiu ainda no velório do sacerdote dominicano no mês de maio, em público, que encerraria o luto em sua comunidade.

Povo Krahô se reúne durante celebração em homenagem a Dom Tomás

Povo Krahô se reúne durante celebração em homenagem a Dom Tomás (Foto: Gustavo Ohara)

Foi um fim de semana intenso, eram dezenas de pessoas dos estados de Goiás, Tocantins, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, que partiam, ainda na madrugada de sexta (26), de Palmas para Nova Aldeia – uma distância de mais de 500 km. A estrada era ruim, fomos de carro até as margens do Rio Vermelho, e de lá atravessava-se de barco.

Ao chegar o final da tarde, naquelas margens, tendo a natureza como testemunha e o rio – que os indígenas têm como se fosse um pai -, partirmos ao encontro de Jercília Krahô e todo o seu povo, que nos aguardavam para participarmos desse momento de gratidão, respeito e profunda reflexão. E que exigia de todos, especialmente os não-índios presentes, toda a atenção dos olhares e pensamentos, pois o ambiente enchia a cada um de uma grande energia mística de um povo que tem um olhar muito além do que às vezes nos permitimos e somos capazes de enxergar.

Sob os olhares de jovens  Krahô, rapaz tem o corpo pintado por uma índia

Sob os olhares de jovens Krahô, rapaz tem o corpo pintado por uma índia (Foto: Gustavo Ohara)

Iniciamos a noite com um jantar que haviam nos preparado, bem diferente dos nossos de costume. A aprendizagem já se dava logo de início: comemos todo(a)s juntos(as) em grandes bacias. Uns sentados no chão, outros em bancos, outros em pé e a partilha acontecia. Era no meu coração o tão sonhado Reino de Deus: uma só mesa, um só espírito, todos movidos por amor àquele que dedicou sua vida na luta dos direitos dos pequenos, às minorias de nossa sociedade.

No dia seguinte, após o café da manhã, Jercília nos acolhia explicando que o ritual era o reconhecimento de gratidão que eles tinham a Dom Tomás, que ela o tinha como um tio e que esteve ao lado dos povos indígenas e camponeses, em suas lutas. Jercília trazia nas suas palavras que não era só uma homenagem do povo Krahô, mas de todos indígenas.“Dom Tomas morreu, fez sua agem, mas ele foi uma semente que brotou rápido, e jamais esquecerei o homem que abriu as portas dos ministérios pra mim, que nem sei ler”, disse. Durante esse momento, Dom Eugênio deu a Jercília uma das estolas de Dom Tomas, e uma cruz que ele gostava muito em forma de reconhecimento da importância que os indígenas tinham na vida de Dom Tomás.

A todo instante eu via o invisível tomar corpo. Os indígenas nos ensinavam, na prática, que não importam as nossas particularidades: somos uma só nação, embora sejam muitos os povos.

Como manda a tradição, índia corta o cabelo de criança para celebrar o fim do luto a Dom Tomás Balduíno

Como manda a tradição, índia corta o cabelo de criança para celebrar o fim do luto a Dom Tomás Balduíno (Foto: Gustavo Ohara)

Tudo ia acontecendo, nós não-indígenas não sabíamos a sequência, o tempo era o deles. Houve como parte do ritual o corte de cabelo, a retirada da barba, a pintura do corpo, a cantoria no pátio e a corrida de toras. Na madrugada de sábado para domingo, como uma espécie de sacrifício, amos a noite inteira no pátio. Adultos, idosos, jovens e crianças: uns deitados, outros sentados e durante toda a noite, sem cessar, houve cantoria. Estávamos todos em direção à Tora Grande, que ainda estava escondida na mata. Os cantos pareciam mantras que se repetiam preenchendo as lacunas do nosso ser, eram verdadeiras orações harmoniosas.

Na manhã de domingo, alguns indígenas foram até a mata pintar a Tora Grande. Depois que eles retornaram, dois grupos de homens e mulheres foram buscar, em forma de corrida, a Tora Grande. Ao chegarem com as Toras, levaram-nas para a casa de Jercília, forraram o chão com tecidos coloridos e pam as quatro Toras de buriti (uma árvore comum na região), que na cultura indígena simboliza o corpo e o fim do luto.

Mulheres choram a morte de Dom Tomás sentadas próximas às Grandes Toras

Mulheres choram a morte de Dom Tomás sentadas próximas às Grandes Toras (Foto: Dedel)

Sentadas próximas às toras, mulheres choravam a morte de Dom Tomás. Isso nos remetia à memória que Dom Tomás era, como membro do seu próprio sangue, presente ali em espírito. Diante das toras, algumas lideranças da comunidade e convidados puderam em palavras prestar sua homenagem ao bispo emérito da cidade de Goiás (GO). Após o choro, encerrou-se o luto. Houve em seguida uma cantoria que expressava a alegria de um povo que acredita que Dom Tomas está presente em nosso meio, e que eles não estarão sozinhos nas suas lutas diárias.

Essas cantorias faziam nosso coração vibrar, nos contagiavam de uma alegria que não se explica em palavras, mas se explodia de dentro pra fora em expressões de risos que transbordavam em distribuição gratuita.

*Leidiane Cruz tem 26 anos e trabalha como estagiária no Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Goiás|Tocantins. Além disso, é militante da Pastoral da Juventude na Diocese de Conceição do Araguaia, no Pará.

“Malditas sejam todas as cercas! Ruralistas não nos representam!”

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Com colaboração de Carol e Evandro

“Malditas sejam todas as cercas! Ruralistas não nos representam!”. Era isso o que dizia uma das faixas que Kátia Abreu teve de ler ao fazer caminhada pelas ruas do Pé do Morro nesta sexta, 5 de setembro. Meninas do grupo de jovens da cidade se mobilizaram para questionar a atuação da senadora, uma das principais representantes da bancada ruralista no Congresso Nacional, candidata a reeleição pelo estado do Tocantins.

Durante a manhã, meninas confeccionam as faixas para o protesto

Durante a manhã, meninas confeccionam as faixas para o protesto

Horas antes da eata, o grupo se reuniu em casa para produzir as faixas e discutir a maneira de exibi-las sem cair em possíveis provocações. Não estávamos em grande número, mas o que chamou atenção foi a coragem das meninas em empunhar as bandeiras para expor suas ideias. No início, era visível a preocupação nos rostos delas, mas foram se empoderando da situação e percebendo que o ato fazia parte do exercício da sua cidadania e que seria bastante importante mostrar sua posição na cidade, que acompanhava pela primeira vez um protesto desse tipo. Nem o sol quente do verão tocantinense as intimidou.

Comitiva da senadora se aproxima das faixas estendidas pelo grupo

Comitiva da senadora se aproxima das faixas estendidas pelo grupo

Muitas pessoas vieram nos perguntar o que significava a manifestação e por que estávamos contrários à presença de Kátia Abreu em nosso município. Aqueles que faziam parte da comitiva tentavam nos esconder com suas faixas, o que mostrou o incômodo e mal estar gerados. Alguns, ainda, soltaram frases ofensivas, mas tínhamos certeza de que estávamos exercendo nosso direito de expressão em um espaço público. Nossa satisfação foi imensa ao ver a senadora lendo a nossa faixa “Trabalhador, não vote na Rainha da moto$$erra”.

Kátia Abreu no momento em que se deparou com as faixas de protesto

Kátia Abreu no momento em que se deparou com as faixas de protesto

Depois, pessoas da cidade vieram nos dizer que nunca haviam questionado as razões para votar na senadora. “A gente aqui não sabe de muita coisa, e acaba votando por votar. Agora não voto mais nela!”, disse uma moradora. Isso nos deu a sensação de missão cumprida.

Sabemos que é um ato pequeno diante da força dos ruralistas na corrida eleitoral e na atual conjuntura do país. Porém, no “mundo do Pé do Morro”, se não estivéssemos lá, teria sido mais uma eata de aplausos e aclamações àquela que é a maior opositora dos direitos de camponeses, indígenas e quilombolas.

Por que protestamos contra Kátia Abreu?

– É a maior representante do agronegócio, que envenena os solos e a água, que expulsa os camponeses de suas terras, que gera os conflitos no campo, que concentra a riqueza, que destrói as florestas, que lucra com o esgotamento dos recursos naturais e com a exploração e escravização dos trabalhadores. Ela não nos representa!

– É líder da bancada ruralista no Congresso Nacional. Na discussão da PEC do trabalho escravo, fez de tudo para desqualificar as ações dos fiscais do trabalho que libertam os trabalhadores. Para ela, as péssimas condições que humilham o trabalhador e tiram sua dignidade não são escravidão. Ela não nos representa!

– Em seus discursos e ações parlamentares, Kátia Abreu alega que os povos indígenas têm muita terra e que o certo seria destinar essas áreas ao agronegócio. É o agronegócio que tem muita terra: 80% do território pertencem a apenas 10% dos proprietários, que empregam apenas 16% da mão de obra do campo. Ela não nos representa!

Por tudo isso, reafirmamos: “Malditas sejam todas as cercas! Ruralistas não nos representam!”.

Protesto atrai a curiosidade das pessoas na rua

Protesto atrai a curiosidade das pessoas na rua

Juventude camponesa do Tocantins se reúne para trocar experiências e enfrentar desafios

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A Comissão Pastoral da Terra (T) realizou, entre os dias 18 e 19, o I Encontro da Juventude Camponesa, em Araguaína (TO). Jovens entre 12 e 28 anos, de oito comunidades rurais, entre acampamentos, assentamentos e ocupação, trocaram experiências sobre a realidade em que vivem e o desafio da permanência na terra.

Na quinta-feira (17), o dia foi de acolhida de todos os participantes, que chegavam de diferentes munícipios da região Norte do Tocantins. Ainda tímidos e calados, os jovens foram levados para a chácara da T, local escolhido para o evento. À noite, com todos reunidos, eles se apresentaram e começaram a interagir entre si.

Pintando os sonhos: jovens usam a criatividade para expor seus sonhos e desejos para uma comunidade solidária e igualitária

Pintando os sonhos: jovens usam a criatividade para expor seus sonhos e desejos para uma comunidade solidária e igualitária

As atividades iniciaram na manhã de sexta-feira (19), após uma mística de abertura dos trabalhos. Convidado para assessorar o dia de oficinas, o professor da rede estadual, Dório Macedo, realizou uma dinâmica com o intuito de rememorar a identidade de cada jovem. Na sequência, meninos e meninas se dividiram em grupos e desenharam como é a comunidade onde vivem: destacaram os problemas, as diversões e o que gostariam de melhorar.

De forma unânime, seja em acampamento, ocupação ou assentamento, os jovens pontuaram a falta de políticas públicas que capacitem e permitam que os mais novos tenham a possibilidade de sobreviver do trabalho no campo. Outros problemas apontados, por exemplo, foram a ausência de energia elétrica, de boas estradas e uma educação de qualidade dentro das próprias comunidades.

Para tornar as atividades mais leves, foram realizadas rodas de conversa com a participação dos agentes da T, Pedro Ribeiro e Silvano Rezende, da professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Renata Rauta Petarly, e da representante da Pastoral da Juventude Rural (PJR), Viviane Barros.

Jovens se reúnem para foto durante a noite cultural na chácara da T

Jovens se reúnem para foto durante a noite cultural na chácara da T

E dessa forma o encontro foi sendo construído – seja por meio de dinâmicas em grupo ou troca de ideias -, com a finalidade de despertar nos jovens a sensibilidade para os problemas que eles enfrentam onde moram e o que eles mesmos podem fazer para modificar o cenário atual.

Comunicação

Durante os dias de encontro, os jovens foram convidados a criar uma equipe de comunicação. Oito participantes se disponibilizaram a compor este grupo, que ficaria responsável por registrar os dias de encontro, sob o olhar particular de cada um.

O formato escolhido foi por meio de um vídeo. À disposição deles, estava apenas uma câmera para filmar. Após uma reunião, a equipe se dividiu em quatro duplas, entre repórteres, cinegrafistas e fotógrafos, e entrevistou os colegas que participaram do evento. Para dar um toque especial, um pequeno pedaço de galho foi utilizado como microfone em todas as entrevistas.

As fotos que ilustram este texto foram tiradas pelos próprios jovens. O vídeo acima, produzido de forma espontânea e bastante divertida, é o resultado da curiosidade e disposição que eles tiveram para vivenciar uma nova experiência. Esse momento de “brincar” de jornalismo proporcionou à garotada uma maior interação entre eles, e permitiu que alguns deles pudessem ter contato com um jeito de se comunicar que ainda não haviam tido contato.

T realiza Encontro de Juventude Camponesa em Araguaína (TO)

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Cerca de 45 jovens de comunidades rurais acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra (T) de Araguaína (TO) participam, entre os dias 18 e 19 de julho, do 1º Encontro de Juventude Camponesa: Luta e Resistência do Jovem na Terra.

O encontro tem como proposta identificar as perspectivas, sonhos e dificuldades dos jovens que vivem em assentamentos, acampamentos e ocupações. O espaço de formação reunirá meninas e meninos de diferentes regiões do estado, a fim de trocar experiências sobre a realidade que cada um enfrenta.

Durante os dias de encontro, a juventude participará de diversos momentos que provocarão a discussão sobre o valor de trabalhar e viver da terra e os desafios da permanência no meio rural.

Faixa de acolhida é estendida na entrada da chácara da T em Araguaína (TO), onde será realizado o encontro.

Faixa de acolhida é estendida na entrada da chácara da T em Araguaína (TO), onde será realizado o encontro.

As dinâmicas envolverão, por exemplo, pintura de mural mostrando a realidade em que vivem e produção de um vídeo dirigido pelos próprios jovens relatando suas impressões sobre o encontro.

As rodas de conversa terão a participação de agentes da T Araguaia-Tocantins, professores da rede estadual e da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e representante da Pastoral da Juventude Rural.

Semana da Terra Padre Josimo encerra com Frei Betto e caminhada dos mártires

noticias do pe do morro-02 Após diversas atividades e celebrações, a Semana da Terra Padre Josimo, realizada pela Diocese de Tocantinópolis, Comissão Pastoral da Terra e Movimento Juvenil Dominicano, encerrou-se neste domingo (18), no Pé do Morro, com uma bonita caminhada e uma missa em homenagem aos mártires da terra. Os moradores da cidade se concentraram na praça Padre Cicero, onde iniciou-se a celebração e procissão em direção à Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. caminhada_josimo Durante o percurso, a comunidade carregou uma faixa com o rosto de Josimo e ergueu estandartes com as imagens de pessoas que entregaram suas vidas em defesa dos desfavorecidos, como Irmã Dorothy Stang, Dom Oscar Romero, João Canuto, Raimundo Ferreira Lima, o “Gringo” e Oziel Alves Pereira. missa_josimo Fazer memória a estas e tantas outras pessoas que lutaram por um mundo melhor é questão de justiça, conforme pontou o frei dominicano Paulo Cantanheide, durante sua homilia. “Nós somos pedras vivas, e é nosso dever mostrar que esses mártires que carregamos na caminhada não estão mortos. É nossa missão fazer com que eles nunca se calem”, disse.

Frei Betto na UFT

A programação da Semana da Terra também contou com a palestra de Frei Betto, na sexta-feira (16), na Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Araguaína. Sob o tema “Como podemos mudar este mundo?”, cerca de 150 pessoas lotaram o anfiteatro para ouvir as experiências do irmão dominicano. O encontro fez o público refletir que uma vida entregue às causas da justiça e da paz, do direito, da dignidade e da liberdade vale a pena ser vivida. Frei Betto destacou o capitalismo como uma das principais barreiras para um mundo igual e a necessidade das pessoas terem seus princípios baseados no que Jesus Cristo viveu, e não no que o sistema perverso financeiro impõe à sociedade diariamente. betto_UFT No início da palestra, Frei Betto relembrou a entrega de Padre Josimo aos interesses dos camponeses e camponesas, que não se intimidou com as ameaças de morte que lhe eram feitas e doou a vida ao próximo. O palestrante ainda fez referência aos 40 anos da morte do amigo Frei Tito de Alencar Lima, um jovem dominicano que foi preso e torturado pela ditadura. Exilado na França, e não resistindo mais às lembranças dos tempos de sofrimento na prisão, Frei Tito suicidou-se em agosto de 1974.