Na próxima semana, completarei três meses aqui no Pé do Morro (Aragominas, para os menos íntimos). Desde que cheguei aqui, ei a ter contato com a juventude. Jovens mais jovens do que sou, mas que fazem com que eu me sinta muito mais jovem do que sou.
A maioria desses adolescentes faz parte do grupo JUMP (Jovens Unidos Multiplicando Poder), que se reúne na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – a única da cidade, e que está aos cuidados de Frei Marcos Belei e Frei Xavier Plassat, ambos Dominicanos.
Os encontros acontecem aos sábados à noite. Sempre é discutido algum tema atual ou um texto bíblico. O grupo, que tem cerca de 20 integrantes, já participou de formações sobre tráfico humano e trabalho escravo, temas da Campanha da Fraternidade. Em outra oportunidade eu conto mais sobre como as meninas e meninos demonstraram sua fé com obras em prol de uma comunidade mais acolhedora.
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Este texto é para falar sobre uma enorme responsabilidade que nós assumimos – e eu falo “nós” porque me sinto muito parte da vida deles, graças à maneira como fui recebido por todos. Há cerca de dois meses, ficou sob nossa tutela organizar e realizar a Via Sacra. Todos os anos, a morte e ressurreição de Cristo é encenada em um trecho que percorre grande parte da cidade. Quase toda comunidade volta os olhos para acompanhar a peça. Por isso, a responsabilidade de fazer um trabalho bonito era muito grande.
Meninas e meninos de 11 a 18 (ou 19?) anos se dividiram entre os papeis de Cristo, Maria, Maria Madalena, Verônica, Pilatos, Barrabás, Cireneu, soldados, ladrões, fariseus entre tantos outros personagens. Bravo como sou, atuei como soldado chefe.
Bem, os ensaios duraram cerca de 1 mês e meio. Praticamente todas as noites nos reunimos para ensaiar. Nem tudo saiu às mil maravilhas. Tivemos muitas brigas discussões, ausências, estresses… mas também foi possível identificar pessoas que até então estavam escondidinhas e conhecer diferentes habilidades de cada um. Todos esses momentos fazem parte do nosso amadurecimento como grupo, e é importante que saibamos usá-los para tal.
Durante toda quinta e na sexta pela manhã, preparamos os últimos detalhes para que tudo saísse direitinho. Tivemos a grande ajuda dos companheiros Jorginho e Juvenal, que já não são lá tão meninos, mas que fizeram parte do grupo de jovens alguns anos atrás. Por já terem organizado a Via Sacra anteriormente, eles nos auxiliaram a capinar o gramado onde seria realizada a crucificação, fizeram uma gambiarra para termos iluminação, ajudaram em toda “engenharia” para colocar as cruzes de uma maneira segura e em vários outros detalhes. Sem contar a ajuda do Evandro, que trabalha comigo na T e deu preciosas dicas de interpretação!
Na sexta-feira à tarde, após a celebração, era chegado o momento de mostrar à comunidade e, principalmente, a nós mesmos, o resultado de todo trabalho, de todo desgaste e aprendizado que tivemos até então. Era muito claro perceber os rostos ansiosos alguns minutos antes da encenação. Para mim, foi muito bom sentir a mesma ansiedade que eles. É esse nervosismo que nos faz sentir vivos e famintos por novos momentos como aquele.
E tudo deu muito certo! Óbvio que algumas coisas não saíram conforme ensaiado, erramos em algumas coisas, mas foi bonito perceber a capacidade que temos quando abraçamos a ideia e nos dispomos a vivê-la. Ao que pudemos perceber, a comunidade também ficou bastante satisfeita com a nossa performance.
Para finalizar com chave de ouro, replico abaixo o depoimento de dois integrantes do grupo: Maria Eduarda, que representou Maria Madalena e Eduardo Libanio, no papel de Pilatos.
Maria Eduarda, 14 anos:
Foi muito emocionante, divertido e gratificante de fazer. Ouvir os comentários positivos não tem preço. Rimos bastante nos ensaios, brigamos, discutimos, mas acho que vai deixar saudade. Tivemos dificuldades, principalmente por ser nossa primeira vez, mas tivemos o apoio e a colaboração de várias pessoas – algumas ajudaram demais mesmo.
Apesar das dificuldades e a falta de compromisso de alguns, ocorreu tudo bem. Rs. No dia da apresentação, acho que todos estavam nervosos. Eu, particularmente, estava muito nervosa, com aquele frio na barriga kkkk.
Mas… foi bom, foi legal de fazer 🙂 E que venham as próximas, mais e mais Vias Sacras e eventos para o grupo de jovens JUMP!
Eduardo Libanio, 18 anos:
Esta Via Sacra foi sem dúvida marcante, desde os momentos que amos nos ensaios e preparativos, até a hora da apresentação. Inicialmente falando sobre os ensaios, nossa, vão ser difíceis de esquecer! Era um ajudando o outro: “cara, melhora essa queda; as mulheres que choram podem ter mais emoção; ou isso ou aquilo ficaria melhor de outra forma”.
Quando faltava alguém, outro fazia seu papel no ensaio, mas cada um teve sua contribuição. Mesmo que algumas vezes se fugia da responsabilidade e objetivo havendo distração, logo se voltava a ensaiar. Foi assim se procedendo até chegar o dia do nosso grande espetáculo.
A ansiedade tomava conta de todos. Crescia-se o nervosismo: “será que vamos conseguir?”. Fizemos uma rápida reunião, na qual todos estavam em círculo e de mãos dadas. Com certeza amos energia uns para outros, o que acalmou-nos mais, e daí então partimos para apresentação. E a comunidade estava lá, nos esperando. “Galera, chegou a hora!”.
Na apresentação saímos todos bem e valeu a pena mesmo pelas dificuldades adas. Chamou-nos atenção também o fato de algumas pessoas ali chorando e muitos outros traços. Certamente, quem ainda não havia entendido, tanto do grupo como da comunidade, o real sentido daquilo naquele momento compreendeu o quão importante é. Não há nem palavras para explicar. Grande é o amor de Jesus por nós e isso é o que cada um vai levar consigo para sempre.