55 anos do golpe militar: O que está acontecendo?

por Osvaldo Meca*

CartazTito2016-04

Hoje, 31 de março de 2019, o Brasil faz memória dos 55 anos do golpe militar. Essa data sempre esteve em uma disputa de narrativas. No entanto, especialmente nesse ano, após eleições presidenciais que estimulou, mas também revelou uma polarização no Brasil, essas disputas ganharam um contorno diferente – e muito perigoso.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, lançou um documento para que se celebre data nos quartéis, na forma de homenagear os articuladores do golpe e o golpe em si. Isso significa, portanto, que esse fato histórico, antes revisado por alguns grupos de que não foi uma ditadura, agora está sendo mobilizado dentro de um escopo institucional.

O revisionismo histórico é um perigo pois esvazia as marcas visíveis da ditadura que durou de 1964 a 1985 no Brasil: desaparecimentos de pessoas (militantes ou não), torturas, exílios, prisões (ou melhor conceituando, sequestros), estupros, ou seja, a violência praticada pelo estado sem qualquer tipo de controle, e ainda legitimada por diversos grupos, como empresários, política externa etc.

O presidente eleito tentou minimizar essa questão do revisionismo, dizendo que em regimes ditatoriais “de vez em quando tem um probleminha”. Mais uma vez se esvazia, desvaloriza, e até mesmo faz-se chacota com o sofrimento alheio e com a destruição de um projeto de país democrático, portanto, inclusivo.

Nesse ano também faremos memória de 45 anos da morte de frei Tito de Alencar Lima, OP. As marcas da ditadura não ficaram apenas no corpo de Tito, mas também em sua alma. Nas palavras de Dom Paulo Evaristo Arns, pastor e profeta da igreja de São Paulo, “o outro lado da vida Tito encontra a unidade perdida”: no dia 10 de agosto de 1974, Tito se enforca em baixo de uma copa de um Álamo, no convento de L’Arbresle, na França. Que a memória de frei Tito de Alencar Lima imprima em nós a fome e sede por justiça.


*Osvaldo Meca é historiador, mestre em História e integrante do Coletivo Frei Tito Vive

O jovem missionário: um portador da alegria do Evangelho

em-2019-1.jpeg

Meus amigos e amigas, filhos e filhas de são Domingos, a vocês, saúde e paz! Como vocês já sabem, o Movimento Juvenil Dominicano no Brasil completa dez anos de caminhada nesse ano. Sem dúvidas, é um acontecimento muito especial para toda a Família Dominicana, pois são os “filhos caçulas” da Ordem dos Pregadores os quais, firmados os pés no carisma dominicano, se esforçam para consolidarem, diariamente, sua vocação como pregadores, atentos da Boa Nova do Evangelho, num tríplice diálogo: com Deus, através da oração; com as realidades divina e humana circundantes do nosso mundo, através do estudo; e com os irmãos e irmãs (especialmente os mais vulneráveis), através do cultivo de uma vida comunitária e fraterna.

Para que esse ano comemorativo não se resumisse apenas a momentos celebrativos e resgates históricos ou memórias dos primeiros jovens que iniciaram sua caminhada junto à Ordem dos Pregadores, a equipe da coordenação nacional, com a ajuda de assessores da Família Dominicana e apoiadores do MJD, planejou e tem trabalhado efusivamente para que nesse ano de 2019 nossa “festa jubilar” seja marcada pela mesma itinerância apostólica que Domingos assumiu em sua vida de pregador.

Entre os dias 8 e 17 de julho, teremos o “Espaço Missionário 10 anos do MJD” na região de Aragominas-TO, que será um momento em que vocês, jovens dominicanos, poderão ter contato com um campo de missão bastante amplo, do qual urgem diversas necessidades, tanto espirituais quanto sociais. Nessa missão popular, basicamente, os participantes vão unir forças com a Igreja local no seu trabalho de evangelização, colaborando assim, na visita às famílias dos residentes (na sua maioria, da região rural), nas atividades motivacionais junto aos jovens da região, buscando tanto uma integração com os agentes de pastoral, como um ser presença de Cristo (que ouve, acolhe, ama) junto a pessoas de uma realidade empobrecida e batalhadora.

Antes de convidá-los formalmente para essa missão, permitam-me, em algumas linhas, discorrer sobre a riqueza dessa experiência que, sem a menor dúvida, pode marcar muito positivamente a vida de vocês, e ser uma espécie de “gás” capaz de animá-los e dar-lhes vigor no engajamento eclesial que vocês já têm nos seus respectivos grupos locais do MJD, como também nas paróquias, movimentos eclesiais e de espiritualidade a que pertencem e se dedicam.

Quando estamos no “nosso espaço”, estamos habituados a viver, pensar, planejar as coisas de acordo com um horizonte específico, limitado. É sempre enriquecedor para nossa escola chamada “VIDA”, avançarmos para águas mais profundas (cf. Lc 5,4), pois é nessa atitude, profundamente evangélica, que podemos nos defrontar com realidades, visões de mundo, dificuldades, novas perspectivas de vida, etc., coisas que jamais veríamos, permanecendo onde estamos. É interessante que era da personalidade de Jesus “ter rodinhas nos pés”: era ativo, dedicado e fiel ao seu chamado dado pelo Pai. (cf. Jo 5,15-17). Ele estava sempre caminhando, conhecendo pessoas, vendo/sentindo suas dores, ouvindo seus clamores; e, quando falava, e agia, fazia de um modo apurado e certeiro, capaz de restabelecer a dignidade e a esperança de viver do seu povo, como também denunciar a opressão e as estruturas de morte. Digamos que esse perfil de Jesus faz d’Ele um “profissional em humanidade”, um modelo universal, de quem devemos nos orgulhar, ainda mais pelo fato de estarmos unidos a Ele no Mistério da Igreja, enquanto batizados e enviados.

Por esse motivo, enquanto cristãos, meus amigos, Jesus nos convida a segui-Lo, o que implica, não somente repetir seus ensinamentos, mas, nos acercando d’Ele (que está vivo e ressuscitado entre nós), deixarmo-nos tocar pelas mazelas humanas, as quais, embora ados mais de 2000 anos, ainda se fazem presentes no nosso mundo, de diferentes formas e níveis. O que nosso Senhor deseja de nós é sermos comivos, aplicando nossas forças pelas causas do amor, da justiça e da paz, que se iniciam com pequenos gestos e renúncias (Mt 19,21). Eu diria até, começando com uma troca: desfazermos do que temos (nossos apegos, nossos confortos), na convicção de que algo maior (que os nossos projetos pessoais) ao qual nos lançamos, possa dar sentido às nossas vidas. Este fenômeno vivencial  é análogo àquele ensinamento de Jesus no qual Ele fala do Reino de Deus, comparando-o a uma pérola preciosa de valor inestimável, pelo qual se vende tudo para adquiri-la (Mt 13,45-46).

Essa “saída vivencial” (mais do que física) que vocês são chamados a fazer participando desse espaço missionário, vai na linha da preocupação pastoral do nosso querido Papa Francisco, que embora tendo 82 anos de idade, possui um espírito despojado e um ímpeto bastante jovial, os quais têm sacudido a Igreja, não a (= nos) deixando acomodar-se. Ele nos recorda que: “Naquele ‘ide’ de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova ‘saída’ missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. […] A alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária. […] Esta alegria é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e continua a frutificar. Mas contém sempre a dinâmica do êxodo e do dom, de sair de si mesmo, de caminhar e de semear sempre de novo, sempre mais além. […] A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém. […] Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!”. (Evangelii Gaudium, 20.21.23.24).

Alguém poderia dizer: “Ah, eu não sei o que fazer, não tenho tanto conteúdo para ar para o povo!”. Um detalhe importante: é necessário, sem dúvida, um preparo anterior, cujas coordenadas serão dadas pela equipe nacional do MJD aos grupos. Todavia, lembrem-se de que vocês não vão simplesmente levar algo, mas PARTILHAR A VIDA E O QUE TÊM, ou seja, numa atitude de abertura de coração e de espírito para levar, mas também para receber, e trazer de volta, do campo de missão, experiências, reflexões, questionamentos, inquietações, projetos, desejo de voltar, mais laços de amizades, etc. Sendo movidos pelo Espírito Santo que habita em cada um, vocês tem tudo para serem leitores atentos, a partir dos “óculos do Reino de Deus”, da realidade empobrecida que encontrarão. Desse modo, a ação evangelizadora de vocês estará motivada pela Caridade divina, que partilha a alegria de ser amado por Deus, não correndo o risco dessa viagem ser um mero eio turístico, registrado por fotos e postado nas redes sociais.

Portanto, insisto na PREPARAÇÃO PESSOAL de vocês (começando AGORA) para esses dias de missão, que, a meu ver, deve estar informada pela LEITURA ORANTE DA PALAVRA DE DEUS, a fim de que seus corações estejam focados tão somente no compromisso pastoral e na sensibilidade com o povo que vocês terão contato.  Procurem juntos se informarem da realidade local, sua história, para que os grupos, embora não sendo possível a presença de todos no espaço missionário, sintam-se em comunhão com o jovem que participará da missão; e este, por sua vez, sinta-se enviado pelo seu grupo.

Por fim, lanço o convite: desafio vocês a fazerem essa experiência de fé e vida, de serem anunciadores e anunciadoras da Boa Nova do Reino por palavras, mas, sobretudo, por gestos de acolhida e amor em terras tocantinenses. Dizia Dom Orlando Brandes, cheio de entusiasmo, para animar as comunidades de sua diocese: “Bíblia na mão, no coração e pé na missão!” Nesse mesmo espírito, espero encontrá-los em Aragominas em julho! Deus os abençoe e continue iluminando a caminhada vocacional de vocês em nossa Família OP.

 

Frei Ronivalder Biancão, OP.

Assessor Nacional do MJD-BR

Direitos humanos e protagonismo feminino – uma homenagem ao Dia da Mulher

* Por Danize Mata, Lívia Alfonsi e Mariana Bongiorno

O que é ser mulher? 

Para responder essa pergunta, partilhamos um texto escrito por Danize Mata, Lívia Alfonsi e Mariana Bongiorno durante o 23º Encontro da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil que aconteceu em Goiânia (GO), em 2013, abordando a temática de Direitos humanos e protagonismo feminino. A Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil é um importante espaço da Ordem dos Pregadores e de toda a Igreja para, dentre tantos temas, pautar a questão feminina e de gênero, pois é um espaço de reflexão, criticidade, acolhida e de protagonismo da mulher.  Confira abaixo. 

post-mjd-8M-2019-DH-05

E o que é ser homem? O que é ser mulher? Na verdade não é SER, é ESTAR. A palavra ser alude à permanência, definição, ontologia, naturalidade. Só Deus é. Enquanto que a palavra estar alude à transitoriedade, errância ou nomadismo.  O ser humano se constrói e desconstrói a cada experiência por isso, nós estamos homens ou mulheres.

Existem diversas maneiras de estar mulher ou homem no mundo. No ocidente foi construída de forma patriarcal e machista apenas uma maneira de estar mulher ou de estar homem. E aí podemos relembrar aqueles ditados populares: “Homem que é homem… (não chora, não se depila, não é vaidoso)” ou “Mulher que é mulher… (usa maquiagem, é frágil, se depila, chora, cozinha, é vaidosa)”.

Começamos então a pensar em como é geralmente a formação desde criança de uma menina e de um menino, a menina ganha bonecas, assiste e ouve contos de fadas, ganha kit de cozinha e de faxina, ganha maquiagem e bolsa; enquanto o menino ganha carros de brinquedos, armas, jogos de lógica, assiste a desenhos de luta. Ou seja, meninas são preparadas desde criança a ter o seguinte pensamento: “Mulher que é mulher deve buscar a sua “metade”, pois sem esta metade ela será para sempre insegura e frágil, tem filhos e cuida deles, lava, a, cozinha e claro tem que estar sempre maquiada e com uma bolsa linda.” Enquanto o menino cresce tendo o seguinte pensamento: “Homem que é homem não chora, dirige, briga e tem um raciocínio lógico aguçado para poder lidar com o mundo”.

Comecem a observar as embalagens de brinquedos e percebam como desde criança nos é impregnado apenas um jeito de estar homem ou de estar mulher no mundo (pelo menos no ocidente). Ou seja, nessa cultura massificada só existe ser mulher e o ser homem como se o ser humano fosse programado para aquilo ou para isso.

O patriarcado deixou uma lógica fixista de papéis em que um manda mais que o outro; o machismo deixou uma lógica fixista de papéis dada por violência.

Precisamos sair da lógica fixista e entender a diferença entre tradição e tradicionalismo. A tradição implica em conhecer o legado de culturas anteriores e fazer uma malha de retalhos aproveitando o que é bom da tradição e adicionando o que a humanidade vai aprendendo. Enquanto o tradicionalismo mantém a tradição como sempre foi simplesmente por ser tradição, independente do que aprendemos a cada dia.

Larguemos então o pensamento de que homem é o contrário de mulher, que mulher vem ocupando o lugar do homem e assumamos que a humanidade é o espaço de homens e mulheres que a cada dia estão homem ou estão mulheres.

E tratando de Protagonismo e Direitos Humanos das mulheres na Igreja e na Sociedade, não se poderia deixar de refletir neste encontro sobre a importância social de Maria, mãe de Jesus.

Maria era um nome dado às mulheres mal vistas pela sociedade da época, pois fazia memória à Miriam do Antigo Testamento, a qual havia sido amaldiçoada por se opor ao casamento de seu irmão, Moisés, com uma mulher etíope. Ainda que marginalizada pela sociedade patriarcal da época, Deus escolheu a jovem mulher da Galiléia para trazer ao mundo o Novo Adão, consagrando assim, a participação das mulheres na salvação do mundo.

Em sua acolhida profunda do projeto de Deus, Maria exerceu o seu ministério da fecundidade e do Estar Mulher na gratuidade oblativa do seu sim generoso e materno.

Trazendo a figura de Maria como o maior exemplo de estar mulher no mundo, finalizamos nosso encontro fazendo memória e rezando por todas aquelas que sofreram ou sofrem perseguições por exercerem seu papel na sociedade, por aquelas que não se dão o devido valor e por todas as outras que no dia-a-dia sofrem simplesmente por estarem mulher.

Deus nos convida, mulheres e homens, a estarmos no mundo e nos fazermos presente ao mundo. Sem Cessar. Sem diferenças. Sem preconceitos.

“Muitas mulheres são fortes,

tu, porém, a todas ultraas!” Pr 31, 29

Uma vez conheci uma mulher, cheia de luz, de fé, de criatividade, de força! Impressionava-me, como ela sempre encontrava um jeito pra tudo, para resolver os problemas delas e dos outros. Encontrei uma mulher que tinha uma vida toda doada, toda a serviço do próximo. Aprendi com ela a ser forte e a buscar em mim sempre aquele algo a mais, quando pensamos que perdemos todas as forças.

Nessa escola tão íntima, tão próxima fui aprendendo a olhar o mundo e a habitar nele, fazendo minhas escolhas como mulher. Nesse caminho, pude conviver com as mais diversas realidades das mulheres: de opressão ou de liberdade, de cuidado ou de negligência, de submissão ou de autonomia, de desespero ou de fé, de vida ou de morte.

Essas mulheres de ontem e de hoje fazem parte da humanidade que busca novas luzes, que ama profundamente a vida, que luta por direito à liberdade, à felicidade, e pretende construir solidariamente novos caminhos. E das mulheres lutadoras de hoje também somos convidadas e convidados a aprender. Aprender do sonho daquelas que sabem de seus direitos, às vezes até assegurados no papel, mas ainda ilusórios na prática.

Como fruto de uma longa construção, reconhecemos que em qualquer lugar que cheguemos lá está uma mulher trabalhando, ocupando espaços que são nossos por direito e que nos foi negado por tanto tempo, mostrando que ninguém é dono exclusivo do saber, do conhecimento e do poder.

No entanto, me chamam atenção, sobretudo, as mulheres que lutam contra a fome, a miséria, a desigualdade, que se esforçam para criar e educar seus filhos, por gerar e parir um mundo melhor. Estas são mais fortes ainda, como a mulher que citei no início dessa conversa, e como tantas outras. São mulheres selvagens, diria a psicóloga Clarissa Pinkola Estes em seu livro “Mulheres que correm com os lobos”, com a qual finalizamos esse breve texto.

Era uma vez uma mulher. Essa mulher era amada. Por ser amada, era reconhecida como inteira em si mesma. Por ser reconhecida, era livre para existir. Essa mulher vivia com os pés na terra e a cabeça nas nuvens, possuía todos os atributos de uma deusa. Era humana e ao mesmo tempo divina e havia algo de selvagem em seus olhos que nenhuma civilização ou religião poderiam domar. Por isso mesmo, essa mulher foi temida e, por ser temida, foi reprimida e banida do convívio dos demais. Ela foi queimada nas fogueiras da ignorância, amordaçada nas malhas da censura, presa nas correntes da indiferença. Após tantos séculos de repressão, aqueles que a haviam represado acreditavam que sua luz havia finalmente se extinguido; que sua natureza selvagem e aterradora havia desaparecido por completo. Porém, essa mulher faz parte da própria natureza, ela é a própria natureza e não pode ser aniquilada. De sua completude temos apenas resquícios, mas, ela sobrevive nas histórias e nos contos de fada e no fundo da alma de todos, homens e mulheres.” (Éstes, Rocco, 1994).

> e o texto completo: https://goo.gl/jzUJq2

 

 

Mulheres do MJD: Não se culpem!

post-mjd-8M-2019-LIVIA-04

“mulheres, não se culpem! Estamos aí para nos ajudar a transcender essa cultura e foi graças a ajuda de muitas que tenho mudado e continuo mudando para viver livre e feliz.”

Continuando nossa série “#MulheresdoMJD”, relembramos e revivemos hoje o texto escrito por nossa companheira Lívia Alfonsi, para série de 2016, que ainda é extremamente atual e necessário.

Ela fala sobre empoderamento feminino e nos traz exemplos de pensamentos e situações machistas que enfrentamos todos os dias, por vezes de maneira “sutil”, mas que nos fere.

‘“Será que sou digna/ boa suficiente para isso?”, é uma questão presente em nossas vidas o tempo todo. E essa não é uma questão importante e reflexiva de autoconhecimento, mas uma questão que só vem para nos rebaixar e nos lembrar de que pelo fato de sermos mulheres não seremos capazes de determinadas coisas.’

Confira no blog esse e outros textos das séries anteriores na íntegra:

Clique aqui para ler o texto. 

Mulheres do MJD: Nunca foi sobre mandar flores

post-mjd-8M-2019-V3-03

Tradicionalmente, ano após ano, ‘’celebramos’’, no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher.

Mas o que de fato estamos celebrando? E o que significa essa data?

Em 1975 a Organização das Nações Unidas (ONU), instaurou o Ano Internacional da Mulher para que não sejam esquecidas suas conquistas políticas e sociais e, na data de 8 de março, foi então oficializado o dia Internacional da Mulher. Em 1977, a UNESCO também reconhece a data como oficial.

Pegando carona no samba-enredo campeão do carnaval de 2019, da Estação Primeira de Mangueira, queremos aproveitar este momento do ano para iniciar mais uma edição da série de textos #MulheresdoMJD que cumprirá o papel de contar – como disseram os sambistas verde e rosas – parte de ‘’uma história que a história não conta’’, sobretudo para as juventudes.

A história do dia 8 de março não começou em 1975 com o aval da ONU ou da UNESCO. Esse marco histórico não objetiva somente homenagear mulheres com presentes e exaltações às suas feminilidades – como por muitas vezes observamos acontecer em nossos meios de convivência – sem considerar suas lutas históricas por direitos, o combate a violência de gênero e suas demandas políticas em nossa sociedade atual.

Esse dia do ano, atualmente, têm vencido estes costumes que rotulavam e reduziam o público feminino, envelopando tudo de rosa e as enchendo de chocolates, para dar espaço ao debate e aos espaços de encontros formativos que os movimentos feministas vêm propondo para a sociedade.

Nunca foi sobre mandar flores. E nunca será.

Abrindo mais uma edição da série ‘’Mulheres do MJD’’, confira, abaixo, o nosso primeiro texto ‘’8 de Março nasceu com luta por pão e paz’’, escrito e cedido pela jornalista, feminista e amiga de lutas Claudia Santiago*. O material foi originalmente publicado no Jornal Brasil de Fato.

A data tem origem em manifestação organizada por tecelãs e costureiras de Petrogrado, durante greve de 1917 na Rússia. - Créditos: Charge: Latuff

8 de Março nasceu com luta por pão e paz

A data tem origem em uma manifestação organizada por tecelãs e costureiras de Petrogrado, durante a greve iniciada no dia 23 de fevereiro de 1917, na Rússia, por pão e paz. Esse movimento foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa.

Alexandra Kollontai, em 1920, assim descreve o movimento:

“Em 1917, no dia 8 de março (23 de fevereiro), no Dia das Mulheres Trabalhadoras, elas saíram corajosamente às ruas de Petrogrado. As mulheres – algumas eram trabalhadoras, algumas eram esposas de soldados – reivindicavam “Pão para nossos filhos” e “Retorno de nossos maridos das trincheiras”. Nesse momento decisivo, o protesto das mulheres trabalhadoras era tão ameaçador que mesmo as forças de segurança tsaristas não ousaram tomar as medidas usuais contra as rebeldes e observavam atônitas o mar turbulento da ira do povo. O Dia das Mulheres Trabalhadoras de 1917 tornou-se memorável na história. Nesse dia as mulheres russas ergueram a tocha da revolução proletária e incendiaram todo o mundo. A revolução de fevereiro se iniciou a partir desse dia.”

Após o fim da Primeira Guerra mundial, em 1918, começa a ser retomado o dia da Mulher. Mas é só a partir de 1921 que o movimento de mulheres ará a celebrar o Dia Internacional da Mulher. Não que antes não fosse comemorado. Era sim. Só que não tinha uma data unitária em todo o mundo, como é hoje.

A II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, em 1910, decidiu pela realização de um dia internacional dedicado à luta das mulheres. O direito ao voto era a principal luta das mulheres em grande parte dos países no mundo naquele momento. A decisão diz o seguinte: “As mulheres socialistas de todas as nações organizarão um Dia das Mulheres específico, cujo primeiro objetivo será promover o direito de voto das mulheres.”

Antes, já era realizado em alguns lugares. Em 3 de maio de 1908, a Federação dos Clubes de Mulheres Socialistas de Chicago realiza um ato pelo Dia da Mulher, num teatro da cidade. No ano seguinte aconteceu em Nova Iorque, em 28 de fevereiro. Em 1910, o Partido Socialista americano organiza, pela segunda vez, o Dia da Mulher, no último domingo de fevereiro, também em Nova Iorque. Foi assim em 1911, 1912 e 1913. Em 1914, foi comemorado em 19 de março.

Na Europa, a primeira celebração do Dia das Mulheres aconteceu em 19 de março de 1911, na Suécia, após a Conferência de Copenhagem. Na Itália começou no mesmo ano. Na França, o começo foi em 1914. Nesse ano pela primeira vez, na Alemanha, o ato é realizado em 8 de março.

Em 1921, Alexandra Kollontai propõe durante a conferência das Mulheres Comunistas, realizada, em Moscou, na URSS, que se adote o dia 8 de março como data unificada do Dia Internacional das Mulheres, em homenagem à greve das tecelãs em 1917. A partir dessa conferência, a data a a ser espalhada como data das comemorações da luta das mulheres, em todo o mundo. Assim nasceu o 8 de Março.

Na década de 1960, as manifestações pelo Dia Internacional da Mulher ganham grandes proporções. Em 1975, a ONU; e logo depois com a Unesco, em 1977; reconhecem o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.

Referências bibliográficas 

. Côté, Renée. La Journée Internationale des Femmes: Les Vrais faits et les Vrais dates des Mystérieuses Origines du 8 Mars Jusqu’ici  Montréal: Les Éditions du Remue-Ménage, 1984.

. Monal, Isabel. Clara Zetkin y el Día Internacional de la Mujer. La Habana: Academia de Ciencias de Cuba, 1977.

. Vasconcelos, Naumi A. “¿Existió realmente el 8 de marzo?”. Mujeres en Acción, n° 1, (1995): 58-60.

. SOF – Sempre Viva Organização Feminista, “8 de março em busca da memória perdida”. São Paulo (2001)

. Santiago Claudia, Giannotti Vito, A origem socialista do dia da mulher. NPC-8 edição – 2016

* Jornalista e coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)

V Encontro Nacional de Jovens de Espiritualidade Dominicana

O V Encontro Nacional de Jovens de Espiritualidade Dominicana aconteceu e foi lindo!

O evento foi realizado pelo Movimento Juvenil Dominicano do Brasil, em parceria com as Irmãs Dominicanas Romanas de São Domingos, entre os dias 12 e 14 de outubro em Belo Horizonte (MG). Mais de 60 participantes foram acolhidos na Casa de Espiritualidade Santa Catarina de Sena.

Com o tema ‘’Juventude Dominicana no Mundo’’, o encontro recebeu jovens dos estados de São Paulo, Paraná, Tocantins, Goiás e Minas Gerais. Leigos, leigas, irmãs e frades da família dominicana também participaram do evento.

Agradecemos a todos e todas que estiveram presentes e fizeram o nosso encontro acontecer. Em especial, registramos nossa gratidão às Irmãs Dominicana Romanas de São Domingos – representadas por Ir. Luciana, Ir. Solange e Ir. Maria Cristina – e aos jovens do grupo “Encontrar-se”, pela acolhida, parceria e todo o apoio prestado à juventude dominicana.

#mjdbrasil #opbrasil #idymLa

44259772_1915227958568340_1605580271279669248_n

Inscrições abertas para o V Encontro Nacional para Jovens de Espiritualidade Dominicana

Cartaz-EN-2018-04

Olá queridas e queridos amig@s do Movimento Juvenil Dominicano! Saúde e Paz!

O V Encontro Nacional para Jovens de Espiritualidade Dominicana já está se aproximando!

Neste ano, nosso Encontro acontecerá em terras mineiras! Nos reuniremos em Belo Horizonte (MG), na casa de Espiritualidade Santa Catarina de Sena, das Irmãs Romanas de São Domingos, entre os dias 12 e 14 de Outubro de 2018. E, desde já, as inscrições estão abertas!

O encontro é aberto a todos os jovens de espiritualidade dominicana e a todos aqueles que desejam fazer uma experiência de encontro com Deus e com o próximo, através do nosso carisma.

Em comunhão com a Igreja, que instituiu 2018 como o ano  do Laicato, e com o Sínodo da Juventude, que buscará repensar a evangelização junto aos jovens, queremos rezar e refletir a nossa missão na sociedade enquanto jovens leigos dominicanos. Por isso, o encontro será guiado por três pilares: No primeiro, rezaremos nossa vocação e refletiremos sobre o que Deus nos pede de forma particular. No segundo, refletiremos sobre o seguimento de Jesus como construção de um projeto chamado Reino de Deus. E, por fim, à luz do carisma dominicano, refletiremos sobre nossa missão junto às necessidades do mundo de hoje.  

Este ano, o esquema de hospedagem será diferente dos anos anteriores. Todos os participantes serão distribuídos nas casas dos integrantes do Grupo “Encontrar-se” (jovens dominicanos da comunidade local) e de leigos e leigas dominicanas da região. Será um lindo momento de comunhão e partilha!

Não há limite de quantidade de jovens para inscrição. Menores de idade deverão sinalizar na inscrição o nome da pessoa que estará responsável por ele durante o encontro.

As inscrições deverão ser realizadas até 12 de Setembro para melhor organização do encontro! Inscreva-se apenas quando tiver certeza de que irá. É importante que o coordenador tenha controle e ciência dos jovens de seu grupo que efetuarem as inscrições.

Clique aqui para preencher o formulário de inscrição.


Informações importantes:

  • Taxa de inscrição: R$30,00 por integrante (este valor será utilizado para custear gastos com alimentação e outras necessidades eventuais). Pagar ao coordenador/a e ele/ela efetuar o depósito na conta do MJD até 12/09/2018.
  • Data: 12, 13 e 14 de outubro de 2018
  • Prazo de inscrição: até 12 de Setembro (para podermos organizar hospedagens e realizarmos as compras para as refeições)
  • Endereço:
  • O custo com o transporte até o local do encontro é de responsabilidade de cada integrante/ grupo. Sugerimos que, grupos pertencentes à mesma região, compartilhem meios de transporte para baratear estes gastos.
  • Autorização: Integrantes menores de idade que residam fora de Minas Gerais, deverão levar uma autorização simples, assinada pelo responsável legal, conforme modelo anexo.
  • Alimentação: no local, incluso na taxa de inscrição
  • O que levar? Itens de higiene pessoal, caderno para anotações, caneta, bíblia, caneca. Não é necessário levar toalha e roupa de cama.
  • Conta para depósito:

Instituto Impulsionador da Instrução

Banco Itaú | Ag: 333 | C/C: 09330-0 | CNPJ: 34.033.837/0001-59

Qualquer dúvida, entre em contato conosco pelo email [email protected].

Contamos com a participação de vocês e nos vemos em BH!

Domingos, homem de seu tempo

Ao fim da série “Reflexões sobre São Domingos”, em que convidamos diferentes companheiros e companheiras da Família Dominicana, nós, do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil, queremos oferecer um texto síntese da vida de São Domingos, em que aprofundamento histórico, análise de conjuntura do presente e as possibilidades de construção do Reino de Deus são levantadas pelas brilhantes letras de frei Betto. Conhecer, ou até mesmo revisitar esse carisma, nesse 8 de agosto, dia de São Domingos, é um convite a todos e todas.

semana s domingos-FINAL-Betto-12

Em uma escrita que nos faz mergulhar pela universo desse santo que nos inspira por sua postura profética frente aos irmãos, vemos que a vida de estudos, oração e missão está mais viva do que nunca (e, também, cada vez mais necessária).

Esperamos que essa série possa ter sido uma pregação frutuosa para os diversos grupos da Família Dominicana e que também seja material para nossa contemplação, para, assim, levarmos o fruto do contemplado.

Para ar o texto completo, CLIQUE AQUI.

Uma boa leitura!

Viva São Domingos.

Fraternidades leigas dominicanas

por Maria Antonieta Degani Natariani*

Começo das Fraternidades Leigas Dominicanas
Domingos sempre foi seguido por leigos, num grupo que foi chamado de Ordem Terceira da Penitência da Santa Pregação. Após o Concílio Vaticano II, a Ordem Terceira ou a chamar-se Fraternidade Leiga Dominicana (FRADO).
Há uma Regra Geral para os leigos e um Diretório Regional que foi votado e elaborado por todos os leigos nas Assembleias anuais. É um guia concreto para o ‘caminharmos juntos’, peculiar às Fraternidades do Brasil.

Espiritualidade
Nossa espiritualidade é baseada no tripé Oração, Estudo e Missão. Nossa lema é: Contemplar e levar ao outro o contemplado.  Então, estudamos a Palavra para levá-la a quem dela precise (e sempre encontramos quem precise). Também estudamos documentos da Igreja e textos dominicanos.

Fraternidades Leigas Dominicanas no Brasil
No Brasil há 21 Fraternidades com mais de 300 leigos sob orientação de frades ou de irmãs. Temos a sigla OP (Ordem dos Pregadores) e, além dos Encontros Locais de Formação, participamos de Encontros e Assembleias  Anuais preparados pela Coordenação Nacional e de Encontros Internacionais.
O Mestre da Ordem, Fr. Bruno Cadoré, OP, pediu para sermos “Criativos e audaciosos”.  Levando em conta seu pedido , desde outubro de 2008  publicamos o  In-formativo  virtual  Presença Leiga Dominicana, cuja intenção principal é a de evangelizar e a de melhor divulgar nossas ações e necessidades,  proporcionando de maneira ágil, breve e clara as principais informações da Fraternidade no Brasil.

E assim, a Fraternidade  Leiga Dominicana caminha, saindo da ‘zona de conforto’ para poder seguir os os de Domingos  na trilha da Evangelização.

* Maria Antonieta, a Tunha, é leiga dominicana                      

Leigo Dominicano, colocar-se a caminho…

por Lourdinha Leal*

post-lourdinha-09

Em 2018, “Ano Nacional do Laicato”, somos convocados a assumir nossa missão junto a Igreja em saída. Ir ao encontro do outro, sair da zona de conforto e fazer a experiência de caminhar lado a lado com aqueles que estão à margem, esquecidos e abandonados. Sinalizar ao próximo que é possível sonhar. Anunciar a ele que por meio da Palavra e da vivência cristã pautadas no testemunho são caminhos que trazem a esperança e força para a transformação de nossa sociedade.

Nesta travessia, temos raízes enquanto Família Dominicana. O carisma dominicano nos faz comprometidos com um Cristo encarnado no próximo, na vida que palpita a cada instante. São Domingos nos deixou um legado que impulsiona o leigo a olhar o mundo com amorosidade: anunciar a Boa Nova , ver e contemplar Deus no coração de todas as coisas.

Assim, as Fraternidades Leigas Dominicanas fazem memória a tantos que se comprometeram com o seguimento de Cristo de forma profética. Leigos que fizeram de seu púlpito o mundo, o dia a dia e não se renderam aos apelos do consumismo capitalista selvagem. Estes são referências para a célula mater das Fraternidades Leigas: o MJD. Os jovens dominicanos são nossa esperança enquanto leigos que sonhamos, lutamos e acreditamos numa sociedade mais justa, humana, sustentável e igualitária.

* Maria de Lourdes Leal, a Lourdinha, leiga dominicana em Uberada (MG)