28.04 – Dia da Caatinga

Por Victor Alarcon

Por iniciativa do Ministério do Meio Ambiente, um decreto assinado pelo presidente Lula em 2003 instituiu o dia 28 de abril como o Dia Nacional da Caatinga. O bioma do sertão nordestino é o único bioma exclusivamente brasileiro, ocupando em torno de 10% do território do nosso país.

Durante muito tempo se acreditou que a caatinga era composta apenas por espécies da floresta atlântica e da floresta amazônica que, por causa da seca, não se desenvolviam direito, sendo por isso consideradas mais ‘feias’. Enquanto durou essa crença, o jeitão seco da caatinga e a ideia de que não se iria encontrar nenhuma novidade por lá, causou um grande desinteresse no seu estudo. Apesar de ainda ser o bioma menos conhecido do Brasil é interessante saber não só que a caatinga é o bioma semi-árido mais biodiverso do mundo mas também que não é uma floresta mirrada. Na verdade a caatinga é uma savana e tem características próprias, inclusive com grandes graus de endemismo, que enriquecem a diversidade biológica do Brasil.

Ararinha azul, exclusiva da caatinga, é considerada extinta na natureza desde 2001.

Ararinha azul, exclusiva da caatinga, é considerada extinta na natureza desde 2001.

Tendo condições próprias, por exemplo muito sol e pouca água, os organismos que ali sobrevivem foram selecionados durante muito tempo e estão adaptados à essas condições como poucos, usando diversas estratégias para sobreviver.

Aprender a usar os recursos que já existem na natureza é um grande desafio que pode trazer grandes benefícios para o ser humano. É bastante claro porque os beduínos do deserto se deslocam usando camelos e não cavalos, certo? Camelos estão adaptados à esse tipo de ambiente, cavalos não. E pelo mesmo motivo o povo nordestino consome umbu, não maçã. O umbuzeiro é uma planta adaptada à vida na caatinga; já as macieiras, não.

Umbuzeiro, árvore que permanece verde mesmo durante a seca do nordeste.

Umbuzeiro, árvore que permanece verde mesmo durante a seca do nordeste.

Vem crescendo a quantidade de cooperativas que beneficiam plantas da caatinga e conseguem gerar renda a partir delas. Ao vender geleia de umbu ou algum produto de babaçú ou ainda artesanato feito com a fibra do licuri se usa a natureza do lugar, que está adaptada a ele, sem precisar modificá-lo. Ou seja gera-se renda pra população sem a necessidade de destruir o ambiente. E mais, em geral as populações já usavam essas plantas e conhecem os truques e segredos de se usar os recursos da natureza. Ao fazer disso uma fonte de renda preserva-se ainda a cultura das pessoas.

Como as cooperativas comunitárias não trabalham com a ideia de lucrarem o máximo, mas trabalham pela sua subsistência elas podem se preocupar não só com a preservação da natureza, sua fonte de renda, mas também com a qualidade de vida dos produtores e dos seus clientes. Esse é um ótimo exemplo de uma necessária mudança na forma como nos relacionamos com a natureza que gera uma mudança real na economia, melhorando a qualidade de vida das pessoas e garantindo a preservação do meio ambiente.